A “pobreza” de Cristo

Texto: II Coríntios  8:9

Se ficamos admirados ao considerarmos as riquezas maravilhosas do Senhor Jesus Cristo, mais ainda havemos de ficar ao descobrirmos que Ele, cujas riquezas eram tão grandes, se fez pobre, e ainda mais, que Ele se fez pobre por amor de nós. A Pessoa de Cristo é uma inspiração para os temas mais diversos, sendo que em todos eles, transluzem lições da maior amplitude.

Este texto glorioso engrandece e expande diante de nós o incompreensível amor de Cristo. Vemos que, por amor de nós, Ele, sendo rico, se fez pobre, despojou-se de tudo quanto tinha. Por isso, jamais nos cansaremos de ouvir falar de amor como este, e esse evangelho de amor divino, sempre alimentará nossos corações. A resposta está em quem o tem experimentado, quem o desfruta atualmente, vivendo em comunhão com o Pai e com o Filho. Este amor excede todo entendimento, mas a nós é dado crescer no conhecimento dele, e assim sempre desejamos ouvir mais a seu respeito, para ficarmos dele embebidos, alimentados.

Consideremos, pois, este fato maravilhoso, que Ele, por amor de nós, se fez pobre. Como podemos entender isto? Que significam estas palavras? A resposta a estas perguntas, encontramos no fato maravilhoso, da vinda de Cristo desde a glória Celeste a este mundo, onde o esperava a vergonhosa cruz. “Cristo Jesus, o qual sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de Cruz” Fil. 2:6-8.

Como Ele se fez pobre?

I- Encarnando-se.

Aniquilou-se a si mesmo, fez-se semelhante aos homens, e foi achado em forma de homem. O mesmo criador que no passado criou todas as coisas  e formou o corpo do homem do pó da terra, tomou esta mesma forma  e entrou no mundo a que ele próprio  tinha dado a existência. Não deixou a sua divindade, mas veio como Deus manifestado em carne. Podemos ler os fatos sublimes da sua entrada no mundo no evangelho de Lucas. Vemos que o anjo Gabriel, após ter anunciado a Maria o nascimento do salvador, disse-lhe: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” Lcas 1:35. Então, no seio de Maria descansava Aquele que desde sempre estava no seio do Pai; e na pobre aldeia de Belém iniciou a sua vida terrestre em forma de uma criança.

II- Nascendo em uma manjedoura.

“E Maria deu a luz a seu filho Primogênito, e envolveu-o em panos e deitou-o em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem” Lucas 2:7. Que pobreza no seu nascimento! E ao mesmo tempo fato maravilhoso! Veio aquele por quem e para quem todas as coisas foram criadas, Aquele que subsistia na gloria eterna com o Pai, antes que o mundo existisse, e vindo não achou lugar, encontrando seu primeiro descanso em uma manjedoura.

Mas, esta pobreza que estamos notando, e que caracterizou a hora de Sua entrada no mundo, está longe de corresponder ao pleno sentido das palavras – “por amor de nós se fez pobre”. A pobreza da encarnação e nascimento, porém, nunca podia conseguir para a consciência atribulada de um pecador, nem a paz, nem o descanso, e Ele ia passar ainda mais profunda experiências de pobreza.

Notemos ainda a história daqueles dias que o Senhor ia crescendo em sabedoria e estatura, até chegar aos dias de seu ministério público mais um caso que o Espírito Santo notou: No fim do segundo capitulo do evangelho de Lucas, lemos como, tendo Ele 12 anos, foi achado no templo, no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os e perante a admiração de Maria, exclamou: “Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” Que consciência de sua personalidade e de sua missão estas palavras revelam!

III- Em Sua profissão.

No evangelho de Marcos lemos dEle ser conhecido como “o carpinteiro”. Aquele que mais tarde disse aos Judeus: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” João 5:17, soube o que era, durante muitos anos, trabalhar com paciência em serviços manuais.

Nazaré era um lugar pobre e pequeno, mas ali teve o seu lar Aquele que desde toda eternidade gozava da comunhão com Deus Pai.

Mas, mesmo assim, esses anos de trabalho e pobreza em Nazaré ainda não nos revelam todo o alcance das palavras: “por amor de nós se fez pobre”.

IV- Passando privações.

De casa. Disse Ele: “As raposas tem covis, e as aves do céus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” Lucas 9:58. E é de supor-se que muitas vezes faltasse à sua cabeça um lugar de descanso.

De alimento. Teve fome, lemos, e dirigiu-se a uma figueira, “mas não achou nela senão folhas” Mat. 21: 18, 19. Aquele que disse outrora: “Minha é a prata e meu é o ouro”, foi socorrido por mulheres que o serviam com seus recursos. Lucas 8:2, 3.

Apesar, de grande a pobreza que Ele experimentou, ainda maior experimentou Ele por amor de nos. Todavia, enquanto como homem, vivia sobre a terra uma vida humilde e pobre, era ao mesmo tempo rico.  Sempre gozava as riquezas do amor do Pai. Já vimos, como na idade de 12 anos Ele falava de Deus Pai, como “Meu Pai”. Nunca houve durante aquela vida imaculada um só momento em que Ele perdesse o sentido do amor e da presença do Pai com Ele. Que consolação foi para Ele, em meio às circunstancias pobres em que espontaneamente entrou, gozar a comunhão com o Pai, com aquele de quem Ele dizia: “ Eu e o Pai somos um”.

No principio de seu ministério publico o pai abriu sobre Ele os céus e declarou: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” Mt. 3:17. Mais tarde a mesma voz se fez ouvir de novo, em sentido idêntico, por ocasião de sua transfiguração, Mt. 17:5.

V- Sofrendo no Calvário.

É na história da cruz que descobrimos, por fim, a medida extrema da pobreza que o Senhor aceitou; só na cruz podemos aprender as profundezas da pobreza que experimentou por amor de nós.

E quem pode compreender a pobreza da cruz? O profeta Jeremias, entre as ruínas da cidade amada de Jerusalém, irrompeu num lamento tocante, dizendo: “Oh! Vós todos que passais pelo caminho, atendei, e vede se há dor semelhante a minha dor, que se me fez a mim, com que me entristeceu o Senhor, no dia do furor da sua ira!” Lam.1:12. Os sofrimentos de Cristo foram todos preditos minuciosamente nas páginas do Antigo Testamento. Foram ali prefiguradas nos sofrimentos dos santos de Deus na antiguidade, como sejam Abel, Isaac, José, Davi, etc. Na sua vida e morte o senhor Jesus passou por tudo isso, e todas as profecias a este respeito, nEle se cumpriram. Mas quem poderá medir a agonia da cruz que Ele teve que suportar?

Alguns dos mais celebres pintores tem pintado quadros famosos representando, segundo sua imaginação, essa cena da crucificação. Mas, quem poderá descrever tudo quanto Ele sofreu quando foi entregue nas mãos dos homens, quando foi escarnecido, açoitado, esbofeteado, e por fim despido e cravado na cruz, tendo sobre a cabeça uma coroa de espinhos? Ali, pendurado, tornou-se alvo do escárnio dos homens e da admiração dos anjos. Desamparado pelos próprios discípulos, achava-se sozinho nessas horas de sofrimento e dor. “Se fez pobre por amor de nós”.

VI- Nos seus sofrimentos vicários.

Embora os sofrimentos e a vergonha, as tristezas e a agonia impostas ao Senhor pelos homens, não se possam medir, mesmo assim não nos dão a medida completa de Sua pobreza. Havia para Ele uma pobreza maior do que aquela que se podia calcular pelos sofrimentos físicos. Escutemos por um momento a maneira como o Espírito Santo nos descreve o que se passou com o Senhor no Jardim de Getsêmani, logo antes da traição e cruz, e iniciaremos a descoberta pois ali estava a gota mais amarga do cálice do Senhor: “E quando chegou àquele lugar, disse-lhes: Orai, para que não entreis em tentação. E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e pondo-se de joelhos, orava dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice, porém, não se faça a minha vontade, senão a tua. E apareceu um anjo do céu que o confortou. E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor fez-se como grandes gotas de sangue, que corriam até o chão” Lucas 22:40-44.

Qual o motivo dessa terrível agonia? Porventura recuava Ele diante do sofrimento físico que O esperava, do sofrimento e da vergonha da cruz? Não, por certo; pois, lemos que “pelo gozo que lhe estava proposto, desprezou a afronta e suportou a cruz” Heb. 12:2. E mais, o que Ele mesmo disse: “Ninguém tira de mim a vida, mas eu de mim mesmo a dou..”

Ele sabia que teria de passar pela agonia mais tremenda. Teria que esgotar até o fim o cálice que lhe havia sido dado a beber. Qual foi, pois, o ponto supremo da pobreza sofrida por Aquele que sendo rico, por amor de nós se fez pobre? Responde-nos a própria palavra Sagrada: “E desde a hora sexta houve trevas sobre toda a terra, até a hora nona. E perto da hora nona exclamou Jesus em voz alta: “Eli, Eli, lama Sabactani, isto é, Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” Mateus 27:45-48.

Este clamor terrível, este grito supremo, que saiu dessa escuridão impenetrável, proferido pelos lábios do Senhor, diz-nos tudo. Nessas palavras temos a medida extrema da Sua pobreza.

Chegamos a conclusão que foi por amor de nós que Ele sofreu tudo, que Ele se fez pobre. Foi por amor de nós que Ele veio ao mundo; por amor de nós que subiu a cruz, por amor de nós que bebeu o cálice amargo, por amor de nós foi desamparado por Deus.

Mas, que somos nós para que o Senhor sofresse assim em nosso lugar? Perguntemos como o Salmista: Que é o homem, Senhor, para que te lembres dele? E Paulo responde: “Não se enganem a si próprios. Aqueles que vivem imoralmente – que são adoradores de ídolos, adúlteros ou homossexuais – não terão parte no seu reino. Nem tampouco os ladrões, os bêbados, os caluniadores e os salteadores” I Cor. 6:10, 11.

Todos somos pecadores e culpados do sacrifício de Jesus. Mas o Senhor nos ama. Depois de tudo que ouvimos, será possível que ainda não entendemos a grandeza de seu amor por nós?

Diz-se que Juliano, o grande apostata, quando estava procurando destruir o Cristianismo, nos dias de prosperidade e esplendor de Roma, antes que ele houvesse recebido o Cristianismo, e quando estava procurando pôr os cristãos para fora do Império, recebeu um golpe mortal, e quando tirou a flecha que havia penetrado as suas costas, saiu juntamente uma golfada de sangue com a qual encheu a sua mão, e jogando-a ao céu, exclamou com grande voz: “Venceste Galileu”.

SIM, somos vencidos, vencidos pelo sangue de Cristo, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Todo homem que subir ao céu, subirá pelo caminho do sangue de Cristo, “que se fez pobre por amor de nós”.

Pr.Cirino Refosco
cirino@missoesnacionais.org.br

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