Evangelizemos o Brasil

Texto: Jeremias  8: 18 – 9:1

Pensar no tamanho de nosso país nos faz temer e tremer. Pensar nos 186 milhões de habitantes que aqui vivem nos aperta o coração. Pensar na condição espiritual de pelo menos 160 milhões de pessoas sem Jesus, nos faz chorar. Mas pensar na imaturidade espiritual da maioria dos que se dizem evangélicos e o tamanho da negligencia da Igreja nos deixa em desespero. Senhor! Até quando a evangelização de nosso povo continuará sendo uma obra inacabada? Tem misericórdia de nós e nos ajude a cumprir nossa missão, nos ajude a ver as necessidades espirituais de nosso povo, nos ajude amar estas pessoas que são povo de nosso povo. Preocupada com a realidade de nosso país já escrevia a saudosa poetisa batista, Mirtes Matias: “Como cantar nossa crença, deixando na treva imensa, o povo que é o nosso povo, e a terra que é a nossa terra, Senhor?”

Como batistas, vivemos uma grande ilusão quando achamos que o Brasil já está evangelizado. Quando dizemos que o rádio e a televisão está chegando aos mais longínquos sertões, isso é verdade, mas não com a mensagem genuína do evangelho; chega com programas destrutivos e quando “evangelho” é a teologia da prosperidade, que serve mais para confundir as pessoas do que para orientar espiritualmente. Faz doer o coração quando andamos pelas cidades do interior do nordeste e de todo Brasil ao ver tantas almas sem Jesus e sem salvação, que caminham pelas ruas mas sem nenhuma certeza de onde estão indo. As tendências de nossa época tem cegado nosso povo, que vive como escravos, escravos de um sistema religioso que a tantos séculos  se implantou em nossa pátria e que tem conduzido milhões de almas ao inferno. Infeliz o dia em que a idolatria foi ensinada ao nosso povo, que vive hoje, sem rumo, sem direção. Quantos milhões de brasileiros carregando seus deuses em procissões? Cabisbaixos e tristes porque acreditam num Jesus morto. Quem sentirá amor por este povo, o nosso povo? Quem atenderá o convite para pregar nos mais longínquos sertões de nossa Pátria? Quem se importará com os brasileirinhos espalhados pelas ruas e cidades desse imenso país que passam o dia cheirando cola e anunciará Jesus, a esperança de um futuro melhor? Quem chegará diante dos milhões de jovens e adolescentes envolvidos em drogas e prostituição para dizer que há uma saída? Quem entrará nas favelas desse pais para ver a miséria e a fome que nosso povo está passando? Quantos idosos a mendigar nos sinais de transito? Quantas pessoas enfermas, precisando de remédio, morrendo as minguas? Quantos pais de família em desespero, porque estão desempregados e não tem como colocar o pão sobre a mesa para saciar seus filhos, e muitos entram no mundo do crime, como sendo a única saída? Eu não consigo entender porque o povo Evangélico e principalmente Batista é tão cego que não consegue ver as necessidades de seu próprio país! Não consegue amar as pessoas que estão perto, e por todos os lados? Mas consegue amar pessoas que nunca viram, que estão na África, Etiópia, Índia, etc. Será que uma alma estrangeira vale mais do que uma alma nacional? Ou é porque dá status para o crente fazer missões estrangeiras ou ibope para as Igrejas?

Não sou e nem poderia ser contrário a evangelização do mundo, pois é uma ordem de Jesus. Sempre contribui pessoalmente e como Igreja para missões nos três ou quatro níveis. Nossa Igreja sempre levantou para missões o equivalente ou mais do que o orçamento mensal. Mas não consigo entender porque tanta negligencia com a evangelização do Brasil. A evangelização do Brasil é uma obra inacabada e a cada ano o numero de perdidos é maior.

Está acontecendo em nossa pátria o que já aconteceu  em alguns paises da Europa, Inglaterra, Canadá, Estados Unidos, etc. As missões estrangeiras asfixiaram as missões nacionais. E o resultado está aí para quem quiser ver. Aliás, “O pior cego é aquele que não quer ver”. Coisa triste para um povo é não aprender as lições que a história nos ensina! Por isso tem sido lastimável a situação espiritual dos paises acima citados e acontecerá o mesmo com nossa pátria nos próximos anos.

Estamos abordando este ano, a necessidade de fidelidade, e neste momento a fidelidade com a evangelização de nosso povo. Tenho andado por este nordeste e conheço tanto as capitais como as menores cidades do interior e me preocupa a situação espiritual caótica que vive nossa gente. Tudo isso tem me feito indagar e questionar nosso trabalho e visão missionária. Qual o motivo do não avanço do trabalho Batista no Brasil? Por que a 30 anos estamos com o mesmo numero de membros em nossa denonimação? Por que a falta de recursos para missões nacionais?  É por causa de um homem, um diretor executivo?  Que visão missionária tem nossos pastores que por não concordarem  com uma pessoa,  asfixiam uma obra, levando suas Igrejas a não contribuir para missões nacionais? Por que tanta diferença no trato dos missionários? Que valor estamos dando aos obreiros que estão nas pequenas cidades do interior do Brasil? Ou nas comunidades Ribeirinhas?  Ou nas tribos indígenas? Ser missionário aqui é diferente, tem menos valor? Para os homens sim; para Deus não!

Depois de tantos questionamentos, cheguei a conclusão que está faltando, na maioria dos crentes batistas brasileiros e muito mais dos pastores e líderes, amor pelo seu próprio povo. E posso provar o que estou dizendo de várias maneiras.

Primeiro vou mostrar biblicamente, que o amor ao próprio povo é a chave para o sucesso na evangelização e depois mostrarei que o amor também se expressa no investimento que estamos fazendo.

I- Homens que amaram seu povo foram  bem sucedido no cumprimento da missão.

Citaremos alguns desses exemplos maravilhosos encontrados na Bíblia, mas também em nossos dias.

1- O apaixonado Moisés. Grande líder e libertador de seu próprio povo. Apesar de ter sido criado na casa de faraó, corria em suas veias sangue hebreu. Num certo dia, vendo um Egípcio maltratando e açoitando um Hebreu, tomou as dores e matou o Egípcio. Essa atitude lhe custou a fuga para o deserto indo depois para as terras de Midiã, onde permaneceu  por 40 anos. Dali Deus o chamou para ajudar seu povo, libertando-o da escravidão e conduzindo-o a Canaã, terra da promessa. Este homem enfrentou Faraó e todos os Egípcios por amor de seu povo.

Não quer dizer que quando amamos  nosso povo o trabalho fica mais fácil. Moisés sofreu muito durante a peregrinação pelo deserto. Dificuldades surgiram, mas podia prosseguir no propósito de libertar seu povo.

Quando se aproximaram do Monte Sinai, deixou o povo nas proximidades do monte enquanto isso subiu para falar com Deus e dEle receber as instruções necessárias. Foram 40 dias e 40 noites sem comer ou beber; sem duvida, intercedendo em favor de seu povo. Enquanto isso, o povo se corrompia, pedindo a Arão que lhes fizesse um deus de ouro, e diante do bezerro estavam a gritar e dizer “Tu nos tiraste da terra do Egito”. Então, o Senhor mesmo disse a Moisés: Vá lá para baixo, pois o seu povo, o povo que você tirou do Egito, está corrompido” Ex. 32:7. Deus se indignou e disse que destruiria todo aquele povo. Enquanto desciam – Moises e Josué – conversavam a respeito do que poderia ser o barulho que estavam ouvindo. “Parece que o povo está em pé de guerra no acampamento, disse Josué”v.17. “Nada disso! Disse Moisés. Não é nem barulho de vitória e nem barulho de derrota. O que escuto é gente cantando” v.18. Naquele dia foram mortos 3 mil Israelitas.  E no dia seguinte, disse Moisés ao povo: “Vós cometestes grande pecado ; agora pois subirei ao Senhor e, porventura, farei propiciação pelo vosso pecado. Tornou Moisés ao Senhor e disse: Ora, o povo cometeu grande pecado, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste” Ex. 32:30-32. Percebemos claramente, nessa declaração, que Moisés era um homem apaixonado pelo seu povo.

2- O apaixonado Neemias.   “Veio Hanani, um de meus irmãos, com alguns de Judá; então lhes perguntei pelos  Judeus que escaparam e que não foram levados para o exílio e acerca de Jerusalém. Disseram-me: Os restantes que não foram levados para o exílio e se acham lá na província, estão em grande miséria e desprezo; os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas portas queimadas. Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus. E disse: Ah Senhor, Deus dos céus, Deus grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia para com aqueles que te amam e guardam os teus mandamentos. Estejam, pois atentos os teus ouvidos, e os teus olhos abertos, para ouvires a oração de teu servo, que hoje faço à Tua presença, dia e noite, pelos filhos de Israel, teus servos; e faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel, os quais temos cometido contra TI; pois eu e a casa de meu pais temos pecado contra TI. Temos procedido de tudo corruptamente contra TI” Neemias 1:2 – 7. Neemias sentiu a miséria e o desprezo de seu povo, chorou, orou e jejuou por muitos dias e foi usado por Deus para ajudar seu povo. Foi o homem que conduziu o povo de Israel ao maior avivamento espiritual de sua história e em apenas 52 dias Jerusalém fora reconstruída.

3- O apaixonado Jeremias. “Oh! Se eu pudesse consolar-me em minha tristeza! O meu coração desfalece dentro de mim. Eis a voz do clamor da filha de meu povo de terra mui remota. Não está o Senhor em Sião? Não está nela o seu rei? Por que me provocaram à íra com as suas imagens de escultura, com os ídolos dos estrangeiros? Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos. Estou quebrantado pela ferida da filha de meu povo; estou de luto; o espanto se apoderou de mim. Acaso não há balsamo em Gileade? Ou não há lá médico? Por que pois não se  realizou a cura da filha do meu povo? Provera a Deus a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos, em fonte de lágrimas! Então choraria de dia e de noite os mortos da filha de meu povo”. Jer. 8:18 – 9:1. Jeremias chorou muitas vezes pelo seu povo e gastou sua vida pregando a eles sobre a necessidade de arrependimento. Deus os salvou levando-os de volta à Jerusalém.

4- O apaixonado Paulo. “Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência; tenho grande tristeza e incessante dor no coração; porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne”. Rom. 9:1-3. Rom. “Irmãos, o bom desejo do meu coração e a minha súplica por Israel é para sua salvação. Porque lhes dou testemunho de que tem zelo de Deus, mas não com entendimento. Portanto, não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus. Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê”.Rom. 10:1-4. Paulo era apaixonado pelo seu povo, estava pronto a dar sua vida pela salvação de seu povo. Se queremos salvar nosso país, precisamos de igual modo ser apaixonados pelo nosso povo.

5- O apaixonado Miguel Zuguer. Tenho ouvido com muita admiração o testemunho de nosso missionário no Oriente Médio, Miguel Zuguer. Ele é um homem apaixonado pelo seu próprio povo. Como ele enfrenta dificuldades e até prisões e torturas por amor ao seu povo. Sua vida corre risco, mas ele continua no propósito de alcançar seu povo com a mensagem do evangelho. Tudo porque ama o seu povo e conhece as suas necessidades espirituais. Mas como nos faltam homens como Miguel em nosso país, homens e mulheres que se apaixonem pelos brasileiros!

II- O investimento em missões nacionais mostra o tamanho de nosso amor pelo nosso povo.

Nossos alvos são pequenos diante das necessidades e do tamanho do Brasil. O pior, a 9 ou 10 anos que não são alcançados. Estamos tentando manter o numero de missionários e ainda avançar na evangelização do Brasil, mas como tem sido difícil! O déficit aumenta a cada ano e o trabalho está sendo asfixiado.

Sei que todos buscam culpados na negligencia da evangelização do Brasil! Ouvi, de um ex-presidente da CBB em pleno púlpito de sua Igreja, que a culpa é da Junta de Missões Nacionais. Ouvi de um ex-diretor executivo que a culpa é dos missionários, um grupo de preguiçosos, que só recebem salário no final do mês. Creio que este homem nunca plantou uma Igreja no interior do Brasil. Mas os culpados são todos que deixaram de amar as preciosas vidas de nosso povo, o povo brasileiro. Culpadas são as Igrejas que não enviam missionários e nem ajudam a sustentar aqueles que estão nos campos; muitos dos quais, por falta de recursos retornam para suas cidades de origem ou procuram Igrejas nas cidades maiores que lhes dê condições de subsistência. Como estão sofrendo os obreiros das pequenas cidades de nossa pátria? Quanta renuncia para permanecer trabalhando? Quanta falta de amor a estas vidas e seus familiares?  Falta recursos para manter os trabalhos já existentes; falta recursos para plantação de novas Igrejas; e a JMN fica dividida entre a revitalização de Igrejas  que é um trabalho urgente e muito grande, pois há centenas de Igrejas morrendo, – mas este trabalho não aparece nos relatórios à Convenção Batista Brasileira; outro trabalho árduo é a plantação de novas Igrejas, hoje mais de 2.500 municípios sem trabalho Batista e possivelmente mais de 30 mil distritos e povoados não alcançados e ainda as comunidade ribeirinhas na região norte do país, afora as tribos indígenas. Agüente se puder, ao ver as necessidades de nossa pátria.

Poderia colocar o montante que cada Igreja investe anualmente na obra de Missões e todos veriam a diferença gritante entre as missões nacionais e estrangeiras, em alguns estados chegam  a 400%.

A Evangelização do Brasil é um trabalho inacabado, precisamos nos conscientizar disso. A responsabilidade de fazê-lo é das Igrejas brasileiras, portanto minha e sua. E para alcançarmos nosso povo precisamos amá-lo, precisamos nos apaixonar por ele. Esta é a única saída para alcançar nosso país com a mensagem do evangelho. Seja como Miguel Zuguer, ame seu povo e faça algo por ele.

Pr. Cirino Refosco
cirino@missoesnacionais.org.br

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