O Princípio da Evangelização Discipuladora

O apóstolo Paulo entendeu a importância da semeadura abundante do Evangelho e escreveu: “Mas digo isto: quem pouco semeia, pouco também colherá; quem semeia com generosidade, também colherá generosamente”.[1] E se tornou um dos maiores exemplos na pregação do Evangelho e por isso podia dizer com toda a coragem e força de seus pulmões: “Porque não me envergonho do Evangelho, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu e também do grego”.[2]

Para experimentar um crescimento de igrejas, como aconteceu no primeiro século, é preciso considerar o trabalho incansável daqueles cristãos na evangelização e discipulado, que era praticado por todos e não apenas os apóstolos ou líderes. Fazer discípulos era responsabilidade de cada discípulo naquela época, e essa atividade tornou-se um estilo de vida. Para eles crer em Jesus Cristo significava obediência, compromisso e multiplicação.

Onde quer que fossem pregavam o Evangelho e por isso encontramos no livro de Atos, pelo menos, sessenta e duas referências ao testemunho, compartilhamento, relacionamento intencional dos discípulos com objetivo de fazer novos discípulos.  (Atos 1.8; 2.14-21, 38-41; 3.6, 11-19; 4.1-12, 29-31, 33; 5.21, 25, 30-31, 42; 6.7; 7.1-58; 8.4,5, 21,22, 25, 26-38, 40; 9.20, 42,43; 10.22, 33-43; 11.19,20; 13.5, 7, 12, 38-39, 44-48; 14.1, 6-7, 21-22, 25; 15.35; 16.10, 13-14, 30-32; 17.2-3, 12-13, 17, 19-22; 18.4,5, 8, 28; 19.8, 10, 17,18; 20.2,3, 7, 20; 21.8; 22.15,16, 21; 23.11; 24.14-16, 24; 26.20, 21, 27, 28; 27.25; 28.23, 31).

A missão de cada discípulo é semear abundantemente o Evangelho através do relacionamento com pessoas de grupo alvo, além de fazê-lo por meio de filmes evangelísticos, pequenos grupos multiplicadores nos lares e escolas, narração de histórias bíblicas, evangelismo pessoal, programas de rádio, música, teatro, e uma infinidade de outras formas. Paulo tinha essa consciência que deveria ser também a nossa: “Mas, se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar, pois tal obrigação me é imposta. E ai de mim, se não anunciar o Evangelho! ” [3]

Para alcançar pessoas, levando-as à salvação, é preciso, desde o início do projeto, semear o Evangelho em larga escala e fazê-lo com responsabilidade. Pois o problema da falta de crescimento na maior parte das igrejas e projetos de plantação de novas igrejas tem sido a falta de uma semeadura abundante. A semeadura deve ser uma das principais atividades daqueles que creem em Jesus Cristo; que devem usar todos os meios possíveis para compartilhar o Evangelho. Pois é certo que a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus; isso indica que as pessoas precisam ter conhecimento dos fatos básicos do Evangelho antes que possam crer.

1. CHAMAR DISCIPULOS – IR

A Bíblia nos apresenta uma fórmula para que o trabalho de evangelização seja abrangente e eficaz. Tendo a visão correta da responsabilidade, deve-se partir para a conquista de pessoas. Não há como negar que a tarefa mais importante de uma igreja é a conquista de pessoas para Jesus Cristo; é impossível exagerar quando falamos na importância desse trabalho. Pois o desejo de Deus é que todas as pessoas se salvem e o objetivo de Jesus foi buscar e salvar os que estavam perdidos[4]. Nossa parte nesse glorioso plano de redenção é transmitir aos nossos semelhantes o Evangelho. “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não há quem pregue? ” [5]

Também é verdade que nada conserva o cristão mais vivo do que a obra missionária! Pela observação da história das igrejas no livro de Atos, concluímos que o testemunho pessoal e o discipulado foram feitos via relacionamento e tornou-se fator principal para o avanço do cristianismo no primeiro século. Levar outros a Jesus Cristo e treiná-los era o alvo de cada discípulo!

A igreja contemporânea está perdendo o senso de responsabilidade pessoal e poucos cristãos fazem discípulos. Essa tarefa, muitas vezes, é colocada sobre o pastor ou liderança da igreja ou então das agências missionárias. Quem em nossas igrejas quer realmente fazer discípulos? Outro ponto que precisa ser destacado é a morte de tantas igrejas na Europa e América do Norte, isso deve-se, principalmente, a perda do hábito evangelizador das próprias igrejas nesses continentes. Observando-se a estagnação das igrejas na América do Sul, concluímos que estamos no mesmo caminho.

Deus nos mostra, em sua Palavra, um método eficaz, uma fórmula infalível, o caminho certo para alcançarmos resultados: “Aquele que sai chorando a plantar a semente voltará com cânticos de júbilo, trazendo consigo seus feixes.[6]

1.1.O desafio é ir onde as pessoas estão

Ação é o primeiro requisito. Aquele que sai…”. Isso significa IR onde as pessoas estão; IR com objetivo de encontra-las. Em lugar algum encontramos na Bíblia que devemos esperar que as pessoas venham por si mesmas, ou se levantem por sua própria força e iniciativa. Devemos busca-las como fez o Bom Pastor ao sentir a falta da ovelha desgarrada: Qual de vós, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no campo e não vai atrás da que se perdeu, até encontrá-la”.[7] IR onde as pessoas estão, implica em relacionar-se, conhecer sua condição, sensibilizar-se e ajudar; e quando necessário, carregar a pessoa nos braços.

Um dos mais drásticos erros, está no fato da igreja esperar que as pessoas venham aos templos para ouvir o Evangelho. Tornou-se rotineiro em muitas igrejas a realização de eventos, na expectativa que as pessoas venham para participar e se convertam a Jesus Cristo. A Bíblia desafia a IR onde as pessoas estão.

A quem enviarei? Quem irá por nós? ” foi o clamor insistente que o profeta Isaías ouviu na visão que mudou o rumo de sua vida. Resolveu atender ao apelo prontamente, dizendo:Aqui estou eu, envia-me.[8]

Vai agora à grande cidade de Nínive e prega contra ela, porque a sua maldade subiu até mim,[9] foi a ordem que Jonas recebeu de Deus, a fim de anunciar a mensagem que haveria de salvar aproximadamente 120 mil pessoas.

“Ide por todo o mundo, e pregai e Evangelho a toda criatura”,[10] foi a ordem do Mestre aos seus discípulos como condição indispensável para a recuperação daqueles que se encontravam longe de Deus. E as pessoas continuam esperando que alguém lhes comunique a boa notícia; precisam ouvir a mensagem de salvação.

Somos chamados para “pescar homens”. Mas por mais atraente que seja o recinto do templo, por mais agradável o programa, ou dinâmico o pregador, as pessoas que queremos alcançar não virão à nossa procura; teremos que IR atrás delas. Em lugar algum na Bíblia está escrito que o pecador deve vir ao templo para ouvir o Evangelho, mas todos os textos apontam para nossa responsabilidade em ir onde as pessoas estão, ou seja, em suas casas e apartamentos.

1.1. O discípulo deve ter coração compassivo

Aquele que sai chorando”. Isto é, deve sentir amor pelas pessoas que se encontram perdidas, interesse, paixão viva, desejo profundo pela salvação das pessoas. Quantos tem este sentimento?

Jesus Cristo se comovia profundamente ao contemplar as multidões necessitadas e demonstrava uma grande compaixão ao ver aquela gente:

Vendo as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam atribuladas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes eu quis ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus filhotes debaixo das asas, e não quisestes! [11]

Jesus Cristo ilustra a necessidade de compaixão com a parábola do bom Samaritano, exemplo que deveríamos seguir no apoio aos que jazem caídos às margens das estradas da vida. Enquanto os religiosos demonstraram indiferença e desprezo passando de largo, o bondoso estrangeiro, sentindo íntima compaixão pelo ferido, aproximou-se dele, tratou os ferimentos, colocou-o sobre o jumento e levou-o à hospedaria, recomendando todo cuidado para seu restabelecimento. E concluiu a parábola, dizendo: “Vai tu e faze o mesmo”. Indicando que devemos ter um coração compassivo na ajuda aos infelizes que jazem sob o domínio de Satanás.[12] Só através do relacionamento alcançaremos nossos semelhantes.

Os homens dos tempos bíblicos pregavam e suplicavam com seus corações cheios de compaixão. Jeremias desejava que sua cabeça se tornasse em água e seus olhos em fontes de lágrimas, para poder chorar os mortos da filha de seu povo.[13] Moisés foi um homem apaixonado e orou pelo povo de sua congregação.[14] Paulo amava os judeus e sua declaração aos romanos permanece até o momento como uma das mais importantes obras da literatura humana. Sentia enorme tristeza e contínua dor no coração ao verificar a incredulidade dos israelitas aos quais pregava a Jesus Cristo.[15] Seu ministério em Éfeso foi de, aproximadamente, três anos acompanhados de admoestação e lágrimas. “Portanto, estai atentos, lembrando-vos de que durante três anos não cessei, dia e noite e com lágrimas, de aconselhar cada um de vós”.[16]

Esta paixão pelos perdidos sempre foi a característica dos grandes pregadores, tais como Oswaldo Smith, que em seu ministério, demonstrou uma grande paixão pelos perdidos, e fez tudo que estava ao seu alcance para levar o Evangelho àqueles que ainda não o conheciam; tentou ir ao campo algumas vezes, mas a saúde não o ajudava. Então fez com que sua igreja se tornasse uma grande agência missionária na época. Paixão pelas almas é o tema de um de seus livros, capaz de mudar a vida de qualquer pessoa que tenha sensibilidade à voz de Deus.[17]

Hoje domina na igreja uma frieza jamais vista, prevalece a indiferença e desinteresse quase completos por parte de seus membros, incluindo também pastores. Como esperar que Deus opere se não há disposição para orar e fazer o trabalho missionário? Quantas igrejas estão diariamente intercedendo em favor dos perdidos? Quantos estão chorando diante de Deus em favor de seus parentes que se perdem? Levar a Palavra de Deus com corações compassivos é um dos segredos para que haja resultados.

1.2. O mensageiro prega o Evangelho

Plantar a semente”. Na parábola do semeador, Jesus Cristo afirma que a semente é a palavra de Deus, o Evangelho.[18] Não possuímos mensagem própria, somos tão somente instrumentos, porta-vozes, vasos, que Deus quer usar para a concretização de seu principal propósito, que é a salvação dos perdidos. Não temos que pregar ciência nem filosofia, mas a Palavra de Deus. Quanto a ti, ó filho do homem, eu te constitui por atalaia sobre a casa de Israel; portanto, ouve a palavra da minha boca e dá o aviso que receberes de mim, foi a missão que Ezequiel recebeu do Senhor e idêntica foi a missão de Jonas ao povo de Nínive.[19]

1.3. O mensageiro tem garantia de resultados

“Voltará com cânticos de júbilo, trazendo consigo seus feixes. Esta é a fórmula que encontramos em toda a Bíblia! Deus garante os resultados para quem segue sua orientação. Em certo período Isaías estava preocupado com seu povo rebelde e em cativeiro. Talvez estivesse questionando a validade da pregação, de seu testemunho entre aquele povo, então Deus lhe disse que não ficasse preocupado e entendesse que o poder não estava em sua palavra como profeta, mas na Palavra de Deus. Assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me agrada e cumprirá com êxito o propósito da sua missão.[20]

Jesus Cristo também ensinou sobre esse assunto: “Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras, já tem seu juiz: a palavra que tenho pregado, essa o julgará no último dia”.[21]

É verdade que nem todos aceitam a mensagem; ela é desprezada por muitos que se mostram indiferentes aos apelos do Evangelho, mas Deus garante resultados positivos àqueles que pregam.

As igrejas do livro de Atos tinham resultados garantidos, e isto se devia a consagração, ao testemunho e constantes atividades dos cristãos. “E todos os dias no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de anunciar  Jesus, o Cristo”. E o resultado era certo: … e o Senhor lhes acrescentava a cada dia os que iam sendo salvos”.[22]

Cumpre-se o que Paulo disse mais tarde: “O que semeia pouco, colhe pouco; mas o que semeia em abundância, em abundância ceifará”. Em outras palavras “voltará com cânticos de júbilo trazendo consigo os seus feixes”.

Não adianta fazer o trabalho de evangelismo só por fazer. É preciso entender que é nossa missão pregar o Evangelho, e é necessário fazê-lo com um coração cheio de compaixão pelas pessoas que desejamos alcançar.

Se quisermos obter estas bênçãos, precisamos tomar a resolução firme de satisfazer as condições exigidas por Deus. E voltar o quanto antes ao caminho da obediência, nos humilhar diante do Senhor e dizer-lhe que temos orado pouco em favor das pessoas e que nunca temos derramado uma lágrima sequer pelos perdidos; não temos levado a sério o estudo da Bíblia; que apesar de nossos esforços, nossos cultos, nossos programas especiais, os resultados são poucos. Forçosamente temos que confessar envergonhados como os discípulos: “Mestre, trabalhamos a noite toda e nada pescamos”.[23] É preciso ter uma visão real do mundo em que vivemos e nos colocar nas mãos de Deus para fazer o trabalho.

  1. 2. CHAMAR DISCÍPULOS – COMPROMETER

Em quem devemos investir nossas vidas? Jesus Cristo observou as pessoas antes de chamá-las; viu a todos e percebeu aqueles que estavam dispostos a assumir compromisso com Ele. Discipulado é, acima de tudo, uma decisão de obediência a Jesus Cristo! Observar seu exemplo na escolha dos discípulos conforme registro feito por Mateus, que descreve o momento em que Ele chamou os primeiros seguidores, nos ajuda entender todo processo. Tudo aconteceu após seu batismo e a tentação no deserto: “Andando às margens do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Eles estavam lançando as redes ao mar, pois eram pescadores. E disse-lhe: Vinde a mim, e eu vos farei pescadores de homens. Imediatamente, eles deixaram as redes e o seguiram”.[24]

É impressionante a disposição desses dois homens! Eram pescadores de profissão, tinham responsabilidade com a família e precisavam apanhar peixes para suprir suas necessidades. Além disso, estavam no início de mais um dia de trabalho, pois estavam lançando as redes. Veja bem, “lançando as redes”, e não retirando ou puxando as redes como acontece no fim de um período de pesca; eles estavam, porém, no início do trabalho. Esses homens poderiam questionar o convite feito por Jesus Cristo, poderiam justificar a impossibilidade de segui-Lo. Poderiam dizer que tinham uma família e que precisavam alimentá-la; ou dizer que não tinham outra fonte de renda senão a pesca e que precisavam trabalhar; poderiam dizer que aquele não era o momento, talvez mais tarde. Entretanto, tomaram a decisão: “imediatamente deixaram as redes e seguiram a Jesus”.

O trabalho estava apenas iniciando e Jesus Cristo prosseguiu em sua caminhada rumo à identificação de novos discípulos. “Passando mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João. Ambos estavam no barco com o pai, Zebedeu, consertando as redes. E Jesus os chamou. Imediatamente, deixaram o barco e seu pai, e seguiram-no”.[25] Aqui está uma situação um pouco diferente da anterior; estes, depois de uma jornada de trabalho, estavam consertando as redes para novamente lançá-las às águas. De igual modo os dois rapazes poderiam justificar, e não atender ao convite do Mestre, pois estavam com o pai, ajudando-o na pesca e não poderiam deixá-lo sozinho. Mas o texto apresenta a disposição de Tiago e João em obedecer a Jesus: “Imediatamente, deixaram o barco e o pai Zebedeu, e seguiram Jesus”.

A análise de mais um texto sobre este assunto nos ajuda na compreensão. Trata-se do convite feito a Mateus: “Saindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, que estava sentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me. Ele se levantou e o seguiu”.[26] Este homem tinha um bom emprego, era fiscal na alfândega, muito atarefado, com responsabilidades enormes, mas tomou a decisão e o texto declara que no mesmo instante ele atendeu ao seu convite. “Ele se levantou e o seguiu”.

Jesus Cristo não teria muito tempo para preparar um grupo de discípulos, apenas três anos e meio, mas tinha consciência que precisava investir na vida de pessoas que seriam capazes de continuar fazendo o trabalho missionário; seriam os multiplicadores de discípulos no mundo. E assim nos ensina como identificar pessoas em quem devemos investir.

2.1. Jesus Cristo chamou pessoas capazes de assumir compromisso

Não eram teólogos, mas pessoas simples, dispostas ao trabalho, prontas para assumir responsabilidades. Também não eram pessoas ociosas, todos eles estavam trabalhando quando identificados por Jesus Cristo. Assim entendemos que uma das qualidades necessárias para aqueles que desejam o discipulado é a disposição para assumir compromissos ou para obedecê-Lo. Pessoas que vivem dando desculpas, dizendo que não têm tempo, que não podem agora, que não priorizam a vida espiritual, dificilmente se comprometerão com o discipulado bíblico. Não porque não tenham tempo de fato, mas porque não priorizam a vida espiritual e Deus sempre fica para um segundo plano. Discipulado é para pessoas que assumem compromisso de seguir Jesus Cristo, a todo custo.

2.2. Jesus Cristo chamou pessoas com sede de Deus

Não eram pessoas religiosas, mas buscavam o Reino de Deus. Estavam aguardando o cumprimento das promessas quanto à vinda do Messias. Isso é visto na atitude de André, que gritou para seu irmão: “Achamos o Messias!”.[27] Sede de Deus é uma das características mais nobres de um discípulo. “Ó Deus, tu és o meu Deus; eu te busco ansiosamente. Minha alma tem sede de TI; meu ser anseia por TI em uma terra seca e exaurida, onde não há água. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e verei a face de Deus?”.[28] É espetacular trabalhar com pessoas que têm sede de Deus, que desejam conhecê-Lo e querem viver em sua presença. Normalmente um novo cristão vive esta paixão – que a Bíblia chama de primeiro amor e trabalhar com pessoas assim é uma experiência extraordinária.

2.3. Jesus Cristo chamou pessoas corajosas e empreendedoras

Eram pescadores dispostos a enfrentar o mar e não tinham medo do perigo. Vento, chuva, tempestades, ondas violentas, tudo isso fazia parte de seu cotidiano. Cada dia no mar constituía-se um grande desafio. E Jesus Cristo aumentou a expectativa deles mostrando que o mar deles seria o mundo; e os peixes seriam homens e mulheres. Jesus sabia que estas pessoas seriam excelentes e assim foram identificados como discípulos em potencial.

2.4. Jesus Cristo chamou pessoas capazes de aceitar desafios

Para ser um discípulo é preciso aceitar os desafios da obra missionária, e não viver egoistamente. Nem casa para morar Jesus Cristo tinha e não lhes prometeu bem material algum. Disse: “As raposas têm tocas, e as aves do céu, ninhos; mas o filho do homem não tem onde descansar a cabeça”.[29] Foram chamados para dar e não para receber. Muita gente só participa de atividades religiosas para receber algum tipo de “bênção” porque essa é a ênfase da Teologia da Prosperidade. Mas uma das qualidades do discípulo é a capacidade para aceitar o senhorio de Jesus Cristo e a Ele entregar sua vida e tudo quanto possui. Um dos grandes desafios no discipulado é a identificação de discípulos fiéis, que tenham disposição de atender as exigências de seu Mestre ou da própria Palavra de Deus.

  1. 3. AGREGAR DISCIPULOS

Não há como desvincular a evangelização do discipulado, pois cada novo crente precisa ser ensinado, para que compreenda o que significa ser um discípulo.  O discipulado é a única estratégia capaz de alcançar o mundo, e Jesus Cristo a apresentou a dois mil anos atrás, na Grande Comissão:

E, aproximando-se Jesus, falou-lhes: Toda autoridade me foi concedida no céu e na terra. Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-lhes a obedecer a todas as coisas que vos ordenei; e eu estou convosco todos os dias, até o final dos tempos.[30]

É o discipulado uma das tarefas mais importantes que podemos realizar no mundo. Fazer discípulos é como completar o trabalho na vida de uma pessoa, agrega-la à igreja, e essa deveria ser, portanto, uma das principais atividades de pessoas que servem a Jesus Cristo. Precisamos entender que discipulado é mais do que ter um grupo de pessoas no culto, ou em uma sala estudando um livro, é treinar os novos cristãos, aperfeiçoa-los para que deem continuidade à obra de evangelização do mundo fazendo novos discípulos.

Fazer discípulos é colocar em prática o princípio da multiplicação. Jesus Cristo escolheu pessoas e as ensinou, incutindo sua vida na vida delas; iniciou com doze e depois O encontramos enviando setenta e a ordem era investir na vida das pessoas que encontrassem pelo caminho, pregando-lhes a Boa Nova de salvação, ensinando-lhes sobre o Reino de Deus, ajudando-as em suas necessidades e agregando-as à igreja.

O trabalho que Jesus Cristo iniciou foi entregue aos discípulos e depois aos cristãos primitivos, que assumiram a responsabilidade de transmitir o Evangelho às pessoas de sua época e assim chegou até nós. O verdadeiro discípulo se multiplica através do discipulado de outras pessoas.

No livro de Atos encontramos trinta e duas referências ao discipulado/ensino (Atos 2.42-47; 5.25 e 42; 8.12,13 e 31-38; 9.10, 19 e 26,27; 11.23,24; 12.25; 13.43; 14.21,22 e 28; 15.32, 35, 36 e 41; 16.4, 15, 33 e 40; 17.2; 18.11, 23 e 27; 19.8,9; 20.2,3, 18-20, 24, 31 e 35; 28.31).

Agregar ao pequeno grupo multiplicador ou a igreja cada pessoa alcançada pelo Evangelho imediatamente após sua decisão pessoal de crer em Jesus Cristo como Salvador e de recebê-Lo como Senhor é de fundamental importância na visão multiplicadora. O líder precisará se assegurar de que todas as pessoas que nasceram de novo entrem num relacionamento com um discipulador, onde terão oportunidade de conhecer a Bíblia e colocá-la em prática no viver diário. O discipulado genuíno é, portanto, muito mais do que um estudo em grupo; é ensinar a praticar esses ensinos por meio da multiplicação. Para que o processo seja eficaz será necessário o envolvimento imediato dos novos convertidos em relacionamentos discipuladores.

Relembrando: fazer discípulos é a única estratégia capaz de alcançar o mundo. É o discipulado uma das tarefas mais importantes que podemos realizar durante nossa existência. Ensinou e nos deu exemplo sobre a forma ideal de fazer discípulos.

Fazer discípulos é completar a obra, é comprometer pessoas com o Evangelho e deveria ser nosso principal trabalho. Discipulado é treinar os cristãos para que dêem continuidade à obra de evangelização do mundo. Fazer discípulos é colocar em prática o princípio da multiplicação.

Escolheu pessoas e as ensinou, incutindo sua vida na vida delas. A obra que Ele iniciou foi entregue àqueles discípulos e depois aos cristãos primitivos, que assumiram a responsabilidade de transmitir o ensino às pessoas de sua época, e assim o Evangelho chegou até nós.

No livro de Lucas, encontramos três parábolas que mostram claramente os trabalhos de evangelização e discipulado como contínuos. Assim como a Grande Comissão narrada por Mateus, apresenta evangelização, discipulado e plantação de igrejas como trabalhos contínuos e complementares. Chamar, agregar, aperfeiçoar discípulos, formar líderes e plantar igrejas são atividades também contínuas.

3.1. A parábola da grande ceia

Com a afirmação feita por um dos fariseus que estavam à mesa: “Bem aventurado aquele que comer pão no reino de Deus!”, Jesus Cristo contou a parábola da grande ceia: Onde certo homem havia mandado convidar as pessoas para uma ceia. Não obstante, todos começaram a escusar-se e cada um deu uma desculpa. Então ordenou aos servos que saíssem depressa pelas ruas e becos da cidade a convidar os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. Mas percebeu que ainda havia lugar; então, ordenou aos seus servos que saíssem pelos caminhos e atalhos e que obrigassem todos a entrar, até que a casa ficasse cheia. Casa cheia é o que desejamos.[31] Esse texto mostra que todas as pessoas são convidadas para receber a salvação.

3.2. O convite para o discipulado

O texto seguinte, que servirá de base para nossa compreensão sobre discipulado, revela que há critérios para quem deseja seguir Jesus Cristo, tornando-se discípulos.[32] Na parábola da grande ceia Jesus apresentou um convite para a salvação e esse texto é um convite para o discipulado.

É certo que nem todas as pessoas que estão na igreja são discípulos de Jesus Cristo; discípulo é aquele que aprende, assimila e segue os conselhos do mestre com disciplina, visando aplicar os conhecimentos adquiridos de modo prático e eficiente. Mas tornar-se discípulo é mais do que aprender e assimilar; é viver o Evangelho é multiplicar-se.

O aprendizado capaz de mudar a nossa vida é aquele que advém das experiências diárias com o Mestre. Fazer discípulos no grego é mais que evangelizar, implica em instruir, treinar [33], e a relação entre mestres e discípulos era uma característica comum no mundo antigo, onde os filósofos gregos e os rabinos judaicos reuniam em torno de si aprendizes, pessoas que tinham interesse de se tornarem também rabinos ou mestres.

No novo testamento a palavra tem a mesma conotação e significa, em geral, aqueles que aceitam os ensinos de outrem. “Vieram, depois, os discípulos de João e lhe perguntaram: Por que nós e os fariseus jejuamos, e os teus discípulos não jejuam?”[34] Portanto, discipulado é a capacitação para ser igual ou até melhor que o mestre, dependendo do interesse e envolvimento no trabalho. Fazer discípulos é uma ordem de Jesus Cristo, que inclui a apresentação do Evangelho, e o convite para seguir a Jesus Cristo, levando estas pessoas ao conhecimento da Palavra de Deus e a agregar-se na igreja local tendo em vista o aperfeiçoamento.

3.3. Como era o discipulado de Jesus Cristo

Depois do convite para a grande ceia que enfatiza a salvação, e tem relações com o chamar discípulos, primeira dimensão do discipulado; Jesus Cristo rodeado de grande multidão começou seu discurso sobre a continuação do processo de discipulado.

Uma grande multidão o acompanhava; e ele, voltando-se na direção dela, disse-lhes: Se alguém vier a mim, e amar pai e mãe, mulher e filhos, irmãos e irmãs e até a própria vida, mais do que a mim, não pode ser meu discípulo. Assim, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo.[35]

Não é apenas quantidade e entusiasmo, mas seriedade de propósito e consciência de vocação, compromisso. Um erro é convidar uma pessoa para crer em Jesus Cristo sem enfatizar a necessidade de se tornar discípulos d’Ele. O mundo não será alcançado por pessoas que são apenas membros de uma igreja local, mas por discípulos, que assumem compromisso com o Mestre e de forma natural se multiplicam. É muito fácil, num programa especial, levar pessoas a uma decisão por Jesus Cristo e até multidões, mas isso não significa que se tornaram discípulos. Na hora do entusiasmo, qualquer pessoa levanta a mão, mas isso também não significa que se tornaram discípulos. É o primeiro passo no processo de discipulado.

Jesus Cristo percebeu a grande multidão, o entusiasmo daquelas pessoas, afinal de contas, era festa.  Mas a frase “Jesus, porém, disse”, faz toda a diferença. Ele advertiu aquelas pessoas quanto à seriedade de se tornarem discípulos. É como se Ele estivesse dizendo: Vocês estão achando que é fácil ser um discípulo? Acham que é só festa? Estão enganados! Há renuncias, há trabalho duro. O discípulo precisa arranjar tempo para estudar a Palavra de Deus; precisa viver em comunhão com o Pai; precisa abandonar o pecado e tudo que não condiz com a fé cristã; precisa deixar aquilo que sabemos que é contrário ao ensino bíblico; precisa fazer prestação de contas; se multiplicar através da conquista de novas pessoas, treinando-as.

3.4. Jesus Cristo deve ser o maior amor

Ele disse: “Se alguém vier a mim, e amar pai e mãe, mulher e filhos, irmãos e irmãs e até a própria vida, mais do que a mim, não pode ser meu discípulo”. A palavra “aborrecer” que aparece em algumas versões, não significa odiar ou desprezar, como alguns pensam e ensinam, mas significa “amar menos”. Muitos não podem ser discípulos por causa do amor demasiado à família, aos amigos e aos interesses pessoais. Veja que Jesus Cristo não manda deixar de amar, mas diz que Deus precisa estar em primeiro lugar. “Mas buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça…”.[36]

3.5. O morrer diário deve ser estilo de vida

Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo.[37] Os discípulos entendiam perfeitamente o que isso significava; as pessoas que estavam ouvindo também sabiam o significado das palavras pronunciadas por Jesus Cristo, pois naqueles dias a pena de morte era a cruz. Segui-Lo implicava em morrer, correr risco de vida. Hoje não há pena de morte na maior parte dos países, mas para seguir a Jesus Cristo nosso ego precisa morrer é necessário priorizá-Lo perante tudo.

3.6. Discipulado é uma construção

Viver a vida cristã é como construir uma torre! O trabalho deve continuar até a conclusão do projeto. Muitos abandonam no início e outros no meio, o que dá motivos para críticas e zombarias. Para ser seu discípulo é necessário parar e calcular, avaliar as condições. O que serve ou não, o que precisa ser abandonado e o investimento necessário para chegar ao fim da construção; qual o custo para formação de um discípulo.

Pois qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro para calcular as despesas, para ver se tem como acaba-la? Para não acontecer que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a zombar dele, dizendo: Este homem começou uma construção e não conseguiu termina-la.[38]

Para entrar no discipulado é necessário fazer os cálculos e erramos quando somos levados só pela emoção ou pelo entusiasmo. Entrar para a igreja sem avaliar o que significa ser discípulo é como iniciar uma construção e não ter condições de acaba-la. Evangelho é compromisso sério com o Reino de Deus.

Discipulado é um alto investimento, tanto para o discipulando como para o discipulador, ambos necessitam muita disposição, esforço e disponibilidade de tempo. A comunhão do discipulador com Deus aumenta através da oração contínua e do constante estudo da Bíblia; os preconceitos caem por terra em relação a determinados pecados, pois ao caminhar junto com alguém percebemos que somos tão limitados e carentes da graça de Deus como as pessoas que discipulamos. Quando vemos a ação de Deus na vida de alguém, temos a fé fortalecida e renovada; crescemos espiritualmente enquanto investimos na vida de outras pessoas.

3.7. O discipulado é comparado a uma guerra

É uma guerra contra os principados e potestades. Por isso é necessário todo cuidado para não subestimar o inimigo que veio, para roubar, matar e destruir e fará o possível para aprisionar as pessoas. Abrindo espaço ele entra e causa prejuízos em todas as áreas. Basta olhar em volta para perceber o que está acontecendo com as famílias, com os jovens e adolescentes; como o mal tem crescido! Quem entra no discipulado está entrando numa guerra contra Satanás, mas também contra sua natureza humana. No discipulado há disciplina, cuidado, fortalecimento espiritual, crescimento, aprende-se o domínio próprio.

Ou qual é o rei que, antes de entrar em guerra contra outro rei, não se senta primeiro para consultar se com dez mil pode ir ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? Mas, pelo contrário, enquanto o outro ainda longe, manda-lhe emissários e pede condições de paz.[39]

A grande maioria das pessoas, quando creem em Jesus Cristo, agem como se estivessem indo para uma festa; e às vezes não são avisadas do que significa ser discípulos. Os pregadores tem culpa nisso, porque só apresentam a salvação, isto é, chamam pessoas para crer em Jesus Cristo e esquecem de dizer que o processo continua através da integração na igreja local. Isso exige submissão ao seu senhorio. Faz-se necessário apresentar Jesus Cristo como Salvador, mas também como Senhor, caso contrário a pessoa não entenderá o Evangelho em sua essência e será como um soldado derrotado.

Perguntas que deve-se fazer para as pessoas que responderam positivamente ao Evangelho: Você reconhece que é um pecador? Reconhece que só Jesus Cristo tem poder para perdoar pecados? Está arrependido de seus pecados e os confessa diante de Deus? Crê em Jesus Cristo como seu único e suficiente Salvador e o recebe como Senhor de sua vida? Você quer ser um discípulo de Jesus Cristo? Você está pronto para investir tempo no cuidado de sua vida espiritual? Você está pronto para jogar fora tudo que lhe atrapalha de servir a Deus? Você está disposto a amar a Jesus Cristo e prioriza-Lo em sua vida? Se as respostas forem positivas a pessoa está fazendo uma opção por Jesus Cristo de forma consciente! Há pessoas em nossas igrejas, batizadas há muito tempo, que ainda não responderam positivamente a estas perguntas.

Uma pessoa que não decide pela obediência aos  ensinos de Jesus Cristo, que não abandona seus pecados, não se envolver com o Reino de Deus, não pode ser discípulo d’Ele. Discipulado é envolvimento, é relacionamento, é uma opção de responsabilidade e investimento.

No ensino bíblico a palavra chave para o discipulado é “renúncia”. Renúncia é o primeiro fator para obtermos vitórias na vida cristã. “Assim, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo”.[40] Quando aprendemos a renúncia, adquirimos os meios para a construção da torre, e criamos os recursos para vencer a guerra.

Concluímos que um dos trabalhos mais importantes da igreja é o discipulado, ou seja, a formação de novos discípulos, o que garantirá o avanço do Evangelho até a volta de Jesus Cristo. Todo trabalho e investimento financeiro de uma igreja deveria ter como objetivo final fazer novos discípulos, cumprir a Grande Comissão.  Este é seu mandamento para igreja e deveria ocupar nosso tempo.

Diante da proposta de Jesus Cristo, somos desafiados a investir no discipulado de pessoas. Pregar o Evangelho abundantemente, mas investir naqueles que  Deus tem colocado em nossas mãos.

  1. 4. APERFEIÇOAR DISCÍPULOS

É preciso estar consciente das dificuldades que podemos enfrentar no processo de aperfeiçoamento das pessoas que são identificadas como discípulos em potencial, aqueles que fazem parte do nosso cartão alvo de oração. Pois nem tudo serão flores, alguns iniciarão com muito entusiasmo e depois desanimarão; outros escorregarão e cairão por vezes seguidas; mas não podemos desistir do grande ideal de fazer discípulos, pois esse é o trabalho mais importante que um discípulo pode realizar em sua vida. A ordem de Jesus Cristo é que cada discípulo esteja empenhado em fazer novos discípulos em todas as nações e assim o mundo será alcançado com a mensagem do Evangelho.

A Bíblia apresenta vários exemplos de pessoas que foram discipuladas; alguns trabalhosos e exigiram muito tempo e paciência dos discipuladores; e estes casos se tornam interessantes para fundamentar o que estamos dizendo sobre a necessidade de cuidado e persistência no ensino para formação de novos discípulos. A maneira que Jesus Cristo trabalhou na identificação e cuidado dos discípulos é inspiradora e aplicável na igreja contemporânea. É preciso conhecer os problemas que Ele e os apóstolos enfrentaram no passado, para que aprendamos como agir no presente.

Nem todos os discípulos são amorosos, corajosos, alegres e acreditam nos ensinos que ouvem, mas todos podem ser tremendamente moldados pelo Espírito Santo e feitos discípulos valentes, dedicados e multiplicadores. O que mais nos entusiasma no discipulado não é o que podemos fazer, mas o que Deus pode fazer na vida e através da vida de pessoas que se colocam em Suas mãos. O segredo é a submissão ao senhorio de Jesus Cristo e à orientação do Espírito Santo. Se olharmos para as limitações e falhas, não teremos motivação para investir em pessoas, mas quando olhamos para o poder de Deus, sabemos que tudo é possível, e que Ele transforma e usa quem quer.

Quem acreditaria, por exemplo, em Simão Pedro, o pescador da Galileia? Quem teria coragem de investir seu tempo neste homem? Humanamente falando, creio que seria difícil encontrar alguém para trabalhar com uma pessoa tão temperamental como Simão Pedro, mas Jesus Cristo acreditou nele e o convocou para fazer parte do primeiro grupo de discípulos, que depois receberam o nome de apóstolos. Investiu seu tempo, sua vida, porque acreditava nele. Este é o grande segredo: acreditar nas pessoas! Só investiremos com prazer em quem acreditamos.

4.1. Jesus Cristo conhecia seus discípulos

É bom pensar um pouco em Simão Pedro, e a importância do amor, cuidado e persistência de Jesus Cristo em trabalhar com ele; exemplo que deveríamos seguir em nossos programas de discipulado. Pouco antes de sua morte, Ele previu a dispersão dos discípulos, e, isso após uma caminhada com esses homens aproximadamente três anos, ensinando e mostrando como tudo funciona no Reino de Deus. Jesus Cristo era o melhor mestre que alguém poderia ter, mas os discípulos eram pessoas exatamente como nós, com as mesmas fraquezas e pecados. Quando disse que seria preso, também afirmou que os discípulos O abandonariam, mas Simão Pedro retrucou:

Ainda que todos desertem, eu nunca te abandonarei. Jesus lhe disse: Em verdade te digo que esta noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás. E Pedro lhe respondeu: Ainda que seja necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei. E todos os discípulos disseram o mesmo.[41]

Pedro confiava em sua própria força, e estava firme no propósito de ser fiel e entregar a sua vida, se necessário pelo Mestre. Mas Jesus Cristo o conhecia muito bem, sua natureza humana, e sabia o que poderia acontecer com Simão Pedro e os demais discípulos.

4.2. Jesus Cristo cuidou de Simão Pedro

João, em seu evangelho, mostrou a disposição de Simão Pedro ao enfrentar os soldados, cortando a orelha de Malco: “Então Simão Pedro desembainhou a espada que trazia e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando – lhe a orelha direita. O nome do servo era Malco. Mas Jesus disse a Pedro: põe a tua espada na bainha”.[42] O que fazer quando um discípulo se envolve em uma briga e corta a orelha de alguém? Ou dá um tiro no vizinho? Qual nossa tendência natural? Desistir, sair de perto do discípulo, abandoná-lo, dizer que não dá para continuar no processo! Percebemos no texto que Jesus Cristo cuidou dele, ajudou-o a resolver aquela situação fazendo o milagre da restauração da orelha de Malco, razão pela qual Simão Pedro não fora preso. Em outras palavras, pagou a fiança! É impressionante o amor e cuidado de Jesus por seus discípulos! Modelo que deveríamos seguir quando estamos desenvolvendo relacionamento discipulador com alguém.

4.3. Jesus Cristo não desistiu de Simão Pedro

Jesus Cristo foi conduzido pelos soldados ao Sinédrio para o julgamento e aquilo que havia predito aconteceu – ‘os discípulos desertaram’ – exceto Simão Pedro, que O seguiu de longe e permaneceu no pátio do Sinédrio para ver o desenrolar daquela perseguição.  Nessas circunstâncias Simão Pedro O negou três vezes:

Pedro estava sentado do lado de fora, no pátio; uma criada aproximou-se dele e disse: Tu também estavas com Jesus, o Galileu. Mas ele negou diante de todos, dizendo: Não sei o que estás falando. E dirigindo-se ele para a entrada, outra criada o viu e disse aos que ali estavam: este também estava com Jesus, o nazareno. E, jurando, ele negou outra vez: Não conheço este homem. Pouco depois, os que estavam ali aproximaram-se e disseram a Pedro: Certamente, tu também és um deles, pois o teu falar te denuncia. Então ele começou a proferir maldições e a jurar; Não conheço este homem. E imediatamente o galo cantou. E Pedro lembrou-se do que Jesus dissera: Antes que o galo cante, três vezes me negarás. Então, saindo dali, chorou amargamente.[43]

É muito fácil acusar Pedro de sua falta de coragem nesse momento. Ele foi muito corajoso no episódio anterior, cortando a orelha de Malco, mas agora teve medo de afirmar seu compromisso. A pergunta é: Uma pessoa com estas características pode ser um bom discípulo? Em uma primeira avaliação não valia a pena investir nesse homem, mas Jesus Cristo cuidou dele e o amou até o fim.

4.4. Jesus Cristo acreditava em Simão Pedro

Após a ressurreição, Jesus procurou Simão Pedro dando-lhe mais uma chance para continuar na caminhada de fé. Ele estava tenso com tudo que havia acontecido naqueles dias e depois da morte de Jesus Cristo voltou à pesca, pois era isso que sabia fazer. Havia sido chamado quando junto com seu irmão André, lançavam as redes ao mar, e agora, o encontrou novamente no mar, de volta às atividades anteriores!

Depois de terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, tu me amas mais do que a estes? Ele respondeu: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Jesus lhe disse: Cuida dos meus cordeiros. E Jesus voltou a perguntar-lhe: Simão, filho de João, tu me amas? Ele respondeu: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Jesus lhe disse: pastoreia as minhas ovelhas. E pela terceira vez lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por lhe ter perguntado pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que te amo. Jesus lhe disse: Cuida das minhas ovelhas.[44]

Depois desse diálogo com o Mestre, Simão Pedro fora restaurado e se tornara um grande vaso nas mãos de Deus para levar pessoas à salvação. O que teria acontecido com Simão Pedro se Jesus Cristo tivesse desistido dele? Possivelmente nunca teria voltado ao colégio apostólico, e não teria sido a pessoa que foi, o pastor e pregador e escritor que conhecemos.

Então, pondo-se em pé com os onze, Pedro tomou a palavra de disse-lhes: Homens Judeus… arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo. Desse modo, os que acolheram a sua palavra foram batizados; e naquele dia juntaram-se a eles quase três mil pessoas.[45]

Simão Pedro foi cuidado e restaurado e usado por Deus na salvação e edificação de muitas pessoas, como aconteceu no dia de Pentecostes em Jerusalém. Jesus Cristo o amou e cuidou dele; não desistiu dele e essa atitude foi decisiva e contribuiu na sua formação desse grande líder da Igreja Primitiva.

Descobrimos que Simão Pedro era temperamental mas que os demais discípulos também não eram perfeitos. Ele negou Jesus, mas os outros fugiram. Cumpriu-se o que Jesus Cristo havia dito: todos desertaram. Era um grupo de medrosos, covardes. Simão Pedro era o mais corajoso!


[1] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. 2 Coríntios. Cap. 9 e Vers. 6.

[2] Ibidem. Romanos. Cap. 1 e Vers. 16.

[3] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. 1 Coríntios. Cap. 9 e

Vers. 16.

[4] Ibidem. Lucas. Cap. 19 e Vers.10.

[5] Ibidem. Romanos. Cap. 10 e Vers. 14.

[6] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Salmos. Cap. 126 e Vers. 6.

[7] Ibidem. Lucas. Cap. 15 e Vers. 4.

[8] Ibidem. Isaias. Cap. 6 e Vers. 8.

[9] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Jonas. Cap. 1 e Vers. 2.

[10] Ibidem. Marcos. Cap. 16 e Vers. 15.

[11] Ibidem. Mateus. Cap. 9 e Vers. 36; Cap. 23 e Vers. 37.

[12] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Lucas. Cap. 10 e Vers. 25-37.

[13] Ibidem. Jeremias. Cap. 8 e Vers. 18 ao Cap. 9 e vers. 1.

[14] Ibidem. Êxodo. Cap. 32 e Vers. 31, 32.

[15] Ibidem. Romanos. Cap. 9 vers. 1-3.

[16] Ibidem. Atos. Cap. 20 e Vers. 31.

[17] SMITH, Oswaldo. Paixão pelas Almas. 4ª edição. São Paulo: Editora Vida. 2001.

[18] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Mateus. Cap. 13 e Vers.

1-23.

[19] Ibidem. Ezequiel. Cap. 33 e Vers. 7; Jonas. Cap. 1 e Vers. 2.

[20] Ibidem. Isaias. Cap. 55 e vers. 11.

[21] Ibidem. João. Cap. 12 e Vers. 48.

[22] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Atos. Cap. 5 e Vers. 42 e

Cap. 2 e Vers. 47.

[23] Ibidem. Lucas. Cap. 5 e Vers. 5.

[24] Ibidem. Mateus. Cap. 4 e Vers. 18 a 20.

[25] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Mateus. Cap. 4 e Vers.

21 e 22.

[26] Ibidem. Mateus. Cap. 9 e Vers.9.

[27] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. João Cap. 1 e Vers. 41.

[28] Ibidem. Salmos Cap. 63 e Vers. 1; Cap. 42 e Vers. 2.

[29] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Mateus. Cap. 8. Vers. 20.

[30] Ibidem. Mateus. Cap. 28 e Vers. 18-20.

[31] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Lucas. Cap. 14 e Vers. 15-24.

[32] Ibidem. Lucas. Cap. 14 e Vers. 25-35.

[33] TAYLOR, W. C. Dicionário do Novo Testamento Grego. Rio de Janeiro: Editora JUERP, 1978. Pag. 130.

[34] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Mateus. Cap. 9 e Vers. 14.

[35] Ibidem. Lucas. Cap. 14 e Vers. 25, 26 e 33.

[36] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Lucas. Cap. 14 e Vers. 26; Mateus. Cap. 6 e vers. 33.

[37] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Lucas. Cap. 14 e Vers. 27.

[38] Ibidem. Lucas. Cap. 14 e Vers. 28-30.

[39] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Lucas. Cap. 14 e

Vers. 31 e 32.

[40] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI.  São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Lucas Cap. 14 e Vers. 33.

[41] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Mateus. Cap. 26 e Vers. 33

a 35.

[42] Ibidem. João. Cap. 18 e Vers. 10 e 11a.

[43] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. Mateus. Cap. 26 e vers.

69 a 75.

[44] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. João. Cap. 21 e Vers. 15 a 17.

[45] Ibidem. Atos. Cap. 2 e vers. 14, 38 e 41.

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