O princípio da formação de líderes

O crescimento de uma igreja depende de líderes que tenham uma visão de futuro bem definida. Para algumas igrejas isso é bom porque seus líderes são visionários e sabem onde querem chegar, mas infelizmente há igrejas lideradas por pessoas que vivem para manutenção dos cultos semanais, achando que esse é seu ministério.
É fundamental que a liderança evangélica entenda que a visão multiplicadora é bíblica, faz parte do plano de Deus. Encontramos a palavra multiplicar ou multiplicação dezenas de vezes. “Frutificai, multiplicai-vos e enchei a terra”, foi a proposta feita ao primeiro casal e hoje a população do mundo está chegando a 7 bilhões de pessoas. “Farei de ti uma grande nação” foi a promessa de Deus a Abraão e Sara, que era estéril, e há milhões de judeus espalhados pelo mundo.
Líderes de igrejas são mais do que gerentes ou chefes, são pessoas vocacionadas para desenvolver um ministério dentro da vontade de Deus. Com isso não estamos dizendo que os líderes devem ter todas e as melhores ideias, mas que devem saber valorizar as boas ideias de seus liderados. O líder é alguém que sempre está em busca de boas ideias.
O líder deve transformar ideias em visão e motivar seus liderados na realização dessa visão. Havemos de convir que qualquer pessoa que consiga expressar uma visão e motivar os outros a torna-la realidade pode ser um líder. O líder precisa ter uma visão abrangente e não se deixar levar pelos detalhes da administração apenas. Precisa selecionar pessoas, capacitá-las, motivá-las e deixá-las fazer o trabalho. Deve valorizar as pessoas e aproveitar as melhores ideias. Não deixar ninguém de fora. A pessoa mais quieta da equipe, aquela que está sempre encolhida no seu canto, pode estar sentada sobre a melhor ideia.
O estudo desse princípio visa estimular a formação de novos líderes, um trabalho essencial para a multiplicação. O crescimento da igreja depende do número de trabalhadores. Então, quais as principais características para líderes que desejam desenvolver um trabalho relevante? É isso que veremos nesse capítulo.
1. INTIMIDADE COM DEUS
Para ser usado por Deus de um modo extraordinário é preciso ter uma comunhão extraordinária e essa é uma das grandes dificuldades em nossos dias; as pessoas estão sobrecarregadas com tantas atividades que o dia fica pequeno para cumprir a extensa agenda. Só a Graça divina sobre um líder para fazê-lo entender que a comunhão com Deus deve ser prioridade. Quanto mais trabalho para realizar, maior deve ser o tempo de comunhão com Deus e não o inverso.
Deus está procurando pessoas que queiram experimentar esta vivência com Ele para tornarem-se íntimos d’Ele; tão íntimos a ponto de começar a ver com os olhos de Deus, sentir com o Seu coração e ter os Seus sentimentos. Enquanto não for desenvolvida comunhão com o Pai e com o Filho, não há condições de ver a realidade como ela é. O desafio é ver as pessoas como gente que Deus ama e em favor de quem deu seu filho único como sacrifício.
Jesus, ao olhar para as pessoas, percebeu que estavam sem rumo, como ovelhas que não têm pastor, cada uma andando pelo seu próprio caminho. Não poucas vezes subiu ao monte próximo a Jerusalém e olhando-as sentia compaixão delas. Ao andar pelas ruas da cidade, atendia ao apelo desesperado de paralíticos e cegos que viviam a mendigar. Estendeu a mão aos excluídos da sociedade e lhes apresentou a Boa Nova de salvação.
Fazendo um estudo sobre as pessoas que mais foram abençoadas por Deus e que mais poderosamente foram usadas, descobriremos que foram aquelas que tiveram maior intimidade com Ele; e isso se aplica tanto à história bíblica como da igreja cristã.
1.1. Moisés foi chamado amigo de Deus
É preciso analisar alguns textos que enfatizam a questão da intimidade com Deus e iniciaremos pelo Velho Testamento, o relacionamento de Moisés com Deus. A vida deste homem é apresentada em três períodos de quarenta anos. O primeiro viveu no palácio de Faraó, criado como filho da filha desse monarca; recebeu toda instrução e cultura dos egípcios, até o confronto e morte do egípcio em defesa de um hebreu. O segundo período foi a fuga para o deserto e a experiência com Jeová, na sarça que queimava e não se consumia; a experiência que teve com o Deus dos hebreus e o convívio com Jetro, sacerdote de Midiã, o prepararam para a missão de libertar Israel. E o terceiro período como líder, responsável para tirar os hebreus do Egito e conduzi-los de volta a Canaã após 430 anos de escravidão. Abaixo um dos textos que descreve essa intimidade com Deus.
Moisés costumava pegar a tenda e armá-la fora, bem longe do acampamento e chamou-a de tenda da revelação. Todo aquele que buscava ao senhor ia à tenda da revelação, fora do acampamento. Quando Moisés ia à tenda, todo o povo se levantava; cada um ficava em pé na entrada da sua tenda e contemplava Moisés pelas costas, até que ele entrasse na tenda. E quando Moisés entrava na tenda, a coluna de nuvem descia e ficava à entrada da tenda; e o Senhor falava com Moisés. E todo o povo via a coluna de nuvem que estava à entrada da tenda, e todo o povo levantando-se, adorava, cada um na entrada da sua tenda. E o Senhor falava com Moisés face a face, como quem fala com seu amigo. Em seguida, Moisés voltava para o acampamento; mas seu auxiliar, o jovem Josué, filho de Num, não se distanciava da tenda.
Moisés ia ao encontro de Deus que vinha ao seu encontro em uma coluna de nuvem. Esse texto mostra que Deus esperava pelo momento de encontrar-se com Moisés e ali revelara seus planos para o povo de Israel. Ele tem planos que deseja revelar aos seus amigos íntimos, mas estes precisam ir até a tenda da revelação, aquele lugar do encontro com o Deus em oração, onde abrirá o coração para contar toda a ansiedade, dúvidas, preocupações e fraquezas. Em outra ocasião Deus disse que tem planos e segredos que serão revelados aos seus amigos que vão à Sua presença.
1.2. Josué foi escolhido para liderar Israel
Deus tem segredos que só revelará às pessoas de sua intimidade. Foi isso que aconteceu com Josué que ainda jovem auxiliava Moisés, havia aprendido a estar com o Senhor. Aqui está um texto que chama atenção para esse fato: “Em seguida, Moisés voltava para o acampamento; mas seu auxiliar, o jovem Josué, filho de Num, não se distanciava da tenda”. Josué era um jovem que tinha fome e sede de Deus; característica daqueles que têm sido usados de forma tremenda e que têm impactado o mundo.
Sempre que Deus precisar de alguém para executar um de seus planos na terra, revelará às pessoas mais íntimas, seus amigos, e os convidará para a missão. Isso fica claro no livro de Josué, capítulo primeiro:
Depois da morte de Moisés, servo do Senhor, este falou a Josué…. Meu servo Moisés está morto; prepara-te agora, atravessa este Jordão, tu e todo este povo, para a terra que estou dando aos israelitas…. Ninguém poderá te resistir todos os dias da tua vida. Como estive com Moisés, assim estarei contigo; não te deixarei nem te desampararei. Esforça-te e sê corajoso, porque farás este povo herdar a terra que jurei dar a seus pais. Não te ordenei isso? Esforça-te e sê corajoso; não tenhas medo, nem te assustes; porque o Senhor, teu Deus, está contigo, por onde quer que andares.
É impossível realizar a obra de Deus sem intimidade com ELE, o dono da obra. O pastor ou plantador de igrejas precisa reconhecer que não é possível realizar o trabalho do Reino de Deus sem Deus. Jesus mesmo disse: “Porque sem mim nada podeis fazer”.
1.3. Jó era amigo íntimo de Deus
O primeiro capítulo do livro de Jó é simplesmente esplêndido. Trata-se de um morador de Uz, íntegro e correto, que temia a Deus e se desviava do mal. Era pai de dez filhos; tinha sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas. Tinha muitos empregados e era o homem mais rico do Oriente naquela época. A família era unida e os filhos visitavam-se uns aos outros. Certo dia os anjos vieram apresentar-se diante de Deus, e Satanás também veio com eles. Deus fez duas perguntas a Satanás: De onde vens? Ele respondeu: de rodear a terra e passear por ela. Viste meu servo Jó? E em seguida Deus fez uma afirmação sobre Jó, dizendo que não havia na terra ninguém igual a ele. “Na terra não há ninguém como ele. É um homem íntegro e correto, que teme a Deus e se desvia do mal”.
Jó era de uma espiritualidade excepcional. Após os banquetes realizados pelos filhos, oferecia a Deus sacrifício em favor de cada um deles, preocupado com suas condutas, pois poderiam ter se excedido e pecado contra o Senhor. Eram sacrifícios de prevenção aos possíveis pecados dos filhos.
Seu sofrimento teve início com prejuízos materiais, tendo seus rebanhos roubados; continuou com a morte de todos seus filhos num forte vento que derrubou a casa onde estavam reunidos; e culminou com sua enfermidade e o desprezo de sua esposa; mas em momento algum este homem deixou de crer em Deus e no seu poder transformador.
Jó era um amável e dedicado servo de Deus, e seu testemunho nos mostra que os dias de sofrimento e aflição, pelos quais passou, foram de grande importância no aprofundamento de sua espiritualidade. E depois de ter perdido seus bens, filhos, e a própria saúde, testemunhou dizendo: “Com os ouvidos eu tinha ouvido falar a teu respeito; mas agora os meus olhos te veem”. Como se estivesse dizendo: Eu te conheço muito mais agora, depois do sofrimento, do que te conhecia antes. Deus quer que nos aprofundemos em nossa experiência com Ele e às vezes toma a iniciativa, permitindo que o sofrimento venha e sirva como ponte para que o conheçamos melhor.
1.4.A expectativa de Jesus Cristo quanto à intimidade
No Evangelho de João encontramos a expectativa de Jesus Cristo quanto à intimidade que devemos manter com Ele e com o Pai. E, a seguir, fez uma oração em favor de seus discípulos, não só os que estavam presentes, mas orou em favor daqueles que ainda haveriam de crer n’Ele. Jesus orou em favor de todos os cristãos, e ainda aqueles que se converterão até o dia glorioso de Sua volta.
Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira; assim também vós, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será concedido.
E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que virão a crer em mim pela palavra deles, para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que me deste, para que sejam um, assim como nós somos um.
Quase nada se faz de valor quando falta a comunhão com Deus. Conhecer a Deus deve ser o maior desejo de um discípulo de Jesus Cristo que enfatizou a necessidade de nos mantermos ligados a Ele, a videira verdadeira, para recebermos o vigor necessário para o cumprimento da missão. Sem comunhão não há como conhecer seus planos em favor da humanidade.
2. TER UMA VISÃO DE MINISTÉRIO
A visão de ministério nasce quando mantemos comunhão com Deus e queremos trabalhar em parceria com Ele a fim de abençoar nossos semelhantes. Quando olhamos ao redor e vemos as necessidades das pessoas e nos colocamos à disposição para ajudar, Deus nos mostrará como fazê-lo. Assim nasce a visão de Deus para o ministério que Ele deseja que realizemos em Seu nome.
Neemias é um exemplo disso: havia sido levado para a Babilônia como escravo, e trabalhava no palácio do rei como copeiro, estava em posição de destaque na Babilônia e com certa regalia; mas vivia preocupado com seu povo, e desejava ansiosamente saber notícias de Jerusalém. Quando Hanani chegou à Babilônia, Neemias correu a seu encontro e perguntou como estava seu povo. Então Hanani disse que a situação era muito difícil e o povo estava sofrendo muito, pois os muros haviam sido derrubados e os portões queimados, as pessoas estavam inseguras e a mercê dos inimigos, e, além disso, havia fome na cidade, e muitas pessoas estavam doentes. Ele sabia que se o Senhor não abençoasse seu povo, nada poderia fazer. Então usou os recursos que estavam à sua disposição, e disse: “Depois de ouvir essas palavras, sentei-me e chorei. Lamentei por alguns dias; e continuei a jejuar e orar perante o Deus do céu”.
Dessa intercessão, contínua comunhão com Deus e sensibilidade quanto ao sofrimento de seu povo, nasceu a visão de reconstruir a cidade de Jerusalém, iniciou com a reconstrução dos muros, trabalho realizado em apenas cinquenta e dois dias. Com a visão, Deus lhe deu também todos os recursos necessários para abençoar seu povo e reconstruir a cidade.
A partir do momento que temos a convicção daquilo que Deus quer que realizemos em nossos ministérios, a visão clara daquilo que deve acontecer no meio da comunidade para onde Deus nos enviou, precisamos orar para que Ele nos dê também a Unção e as estratégias para alcançar a visão que Ele mesmo colocou em nossos corações.
A grande questão é: por onde começar? Qual é o ponto de partida para o ministério? Os líderes que não conseguem responder a estas perguntas se perdem no meio de atividades, que muitas vezes o levam para longe do alvo inicial. Há pastores e missionários que estão como cegos, isto é, completamente perdidos, sem direção e na verdade não sabem para onde estão indo e por isso não chegarão a lugar algum.
Outros não têm clareza sobre a finalidade de seus ministérios. Não traçam verdadeiros objetivos e se lançam no ministério sem muita ponderação, planejamento ou preparação. Não têm um alvo para alcançar e, consequentemente não sabem por onde começar ou na maioria das vezes começam de forma errada.
No momento em que começamos a nos concentrar em um bairro, cidade ou região, precisamos começar desde o início tendo em nossas mentes a visão final ou seja, precisamos ver pela fé o que acontecerá quando aquelas pessoas forem alcançadas chegando ao pleno conhecimento de Jesus Cristo. Como será quando cada pessoa dentro dessa comunidade tiver a oportunidade de ouvir o evangelho e fizer uma opção consciente positiva de crer em Jesus como salvador e recebê-lo como Senhor absoluto de suas vidas. Deus deseja que todas as pessoas sejam salvas, portanto, devemos iniciar nosso ministério pedindo a Ele que nos conceda uma visão de como será no final do trabalho, quando aquela visão tiver sido alcançada. Precisamos visualizar um quadro de como será quando a tarefa for concluída. Sem esse quadro, sem saber para onde estamos indo, jamais chegaremos ao nosso destino. É como quando saímos de nossas casas pela manhã. Precisamos comprar pão; consequentemente, sabemos que temos de passar na padaria. Não basta saber que devemos ir até a padaria para comprar pão; precisamos saber também onde fica a padaria. Se não soubermos, vagaremos sem destino. Talvez até cheguemos ao nosso destino, talvez não. Se não soubermos onde fica a padaria, talvez precisemos de um mapa, ou de alguém que nos dê o endereço ou nos mostre o caminho.
É vontade de Deus que as pessoas O conheçam como único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo a quem enviou para ser Salvador e Senhor. Essa é a vontade soberana de Deus, e precisamos alinhar nossos ministérios com essa Vontade. É preciso investir tudo que temos e somos para alcançar as pessoas que Ele colocou diante de nós como nosso alvo.
Ninguém vai além de sua visão! Se alguém crer que é possível, que vai alcançar, já alcançou. Se crer que não dará certo, assim será. Lembre-se: é vontade de Deus que todas as pessoas se arrependam de seus pecados e sejam salvas. Trabalhar para que isso aconteça é estar no centro da vontade de Deus. Todos os nossos projetos e esforços devem ter como alvo final, alcançar pessoas e fazê-las discípulos de Jesus Cristo.
Uma das primeiras coisas em nossos ministérios é definir o grupo de pessoas, ou comunidade onde vamos trabalhar, que pode ser um bairro, cidade, ou região; pode ser um segmento da comunidade, uma etnia, ou dependentes químicos. Após identificar esse grupo, precisamos determinar dois fatores que ajudarão a desenvolver a visão e planejar as tarefas que devem ser realizadas para que essa visão seja alcançada.
Primeiro: Calcular quantas igrejas devem ser plantadas para que cada pessoa da comunidade tenha a oportunidade de ouvir e responder ao Evangelho faz parte dessa visão. Não pensar que nós, pessoalmente, vamos plantar todas as igrejas. Apenas decidimos quantas igrejas serão necessárias para que a tarefa seja realizada. Para determinar quantas igrejas serão necessárias, precisamos ter uma ideia do número de povoados ou comunidades onde as pessoas residem. Pode ser que não tenhamos um número exato agora, mas devemos ter pelo menos uma estimativa. De acordo com os parâmetros de Missões Nacionais, o desafio é uma igreja para cada 10.000 pessoas ou fração, no caso de cidades pequenas, distritos ou povoados. E para a segunda etapa, pensaremos em uma igreja para cada 5.000 pessoas ou fração.
Segundo: Tendo recebido de Deus a visão do trabalho que deve ser realizado, precisamos responder às seguintes perguntas: Quais serão as características das igrejas que desejamos plantar? Todas elas terão templos e pastores de tempo integral? Serão grupos pequenos? Onde essas igrejas se reunirão? O que farão quando se reunirem? Com que frequência se reunirão? Quem serão os seus líderes? Como os líderes serão treinados? Como as igrejas se relacionarão umas com as outras?
É preciso pensar nessas questões no início do ministério e não deixar para dois ou três anos à frente, pois nosso destino final ou visão final, determinará como devemos iniciar o trabalho. Lembre-se: o assunto se concentra na multiplicação de igrejas, que consiste no crescimento da igreja local e plantação de novas igrejas. Devemos pensar no rápido crescimento e plantação de igrejas multiplicadoras. Portanto, as características das igrejas a serem plantadas são extremamente importantes e o segredo é a plantação de igrejas que se reproduzam facilmente através dos novos discípulos.
2.1. Abraão recebeu a visão da missão
Ter a visão de Deus é o caminho para um ministério bem-sucedido. No livro de Provérbios encontramos a expressão: “Onde não há visão o povo perece”. Sem dúvida, uma das coisas mais importantes na vida, se tratando de vocação, é a visão que recebemos de Deus para o desenvolvimento do ministério; que inclui uma visão correta de Deus, de Seu Reino, da vida cristã, e do trabalho a realizar, enfim, da missão. Em uma leitura minuciosa da Bíblia, percebemos, com clareza, que as pessoas que foram usadas de forma mais esplêndida são aquelas que receberam de Deus a visão do ministério que deveriam desenvolver e que foram sensíveis ao que Deus disse, obedecendo-O.
O Senhor fez duas promessas a Abraão mostrando o que faria através dele. Esta era a visão do ministério que deveria desenvolver: “E farei de ti uma grande nação, te abençoarei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei quem te amaldiçoar; e todas as famílias da terra serão abençoadas por meio de ti”.
Abraão e Sara moradores de Ur dos Caldeus, na Mesopotâmia, onde se localiza o Iraque hoje. Eram fazendeiros, e estavam com a vida tranquila, até o dia em que o Senhor os chamou, convocando-os a deixar sua terra e parentela e pela fé, saíram sem saber para onde iam. Deus lhes fez duas promessas, mostrando o que desejava alcançar através de suas vidas. A primeira era fazê-los pais de uma grande nação – do impossível – pois não tinham filhos nem idade para tê-los. A segunda era abençoar todas as famílias da terra por meio de sua família, ou seu descendente. Abraão creu, mesmo contra as possibilidades de acontecer o que Deus prometera.  Por isso teve lugar de destaque na galeria dos heróis da fé em Hebreus capitulo onze.
Estas promessas foram feitas quando Abraão contava com 75, e Sara, sua esposa, 65 anos. Abraão e Sara também viveram momentos de crise, pois os anos passavam e se tornava mais difícil, humanamente falando, o cumprimento da promessa. Tanto que, em Gênesis capitulo quinze, Deus interveio, visitando o casal. Em uma bela noite estavam na tenda a meditar sobre a realidade vivida e as promessas ainda não cumpridas. O texto fala do anjo do Senhor que entrou na tenda e os saudou:
Depois dessas coisas, a palavra do SENHOR veio a Abrão numa visão, dizendo: Abrão, não temas; eu sou o teu escudo, o teu galardão será muito grande. Então disse Abrão: Ó SENHOR Deus, que me darás, já que hei de morrer sem filhos, e o herdeiro de minha casa é Eliézer, de Damasco? E Abrão prosseguiu: Tu não me deste filhos; um servo nascido na minha casa será o meu herdeiro. Então lhe veio a palavra do SENHOR: Ele não será teu herdeiro; mas aquele que proceder de ti mesmo será teu herdeiro. Então o levou para fora e disse: Olha agora para o céu e conta as estrelas, se é que consegues contá-las; e acrescentou: Assim será a tua descendência. E Abrão creu no SENHOR; e o SENHOR atribuiu-lhe isso como justiça.
E o anjo lhe disse que a promessa de Deus estava confirmada: Eles seriam pais de grandes nações e através deles todas as famílias da terra seriam abençoadas; depois convocou Abraão para que saísse de sua tenda e olhasse para o céu, e contasse as estrelas se o pudesse fazer.
Mas quem pode contar as estrelas? Ouvi de um professor quando estava cursando o sexto ano do ensino fundamental que podemos ver, a olho nu, três mil estrelas. Mas não sabemos se alguém conseguiu contar essa quantidade de estrelas. Com Galileu Galilei que melhorou e usou o telescópio, a informação é que podemos ver milhares de estrelas. Na verdade, contar estrelas é um trabalho impossível para nós. E era exatamente isso que Deus queria que Abraão entendesse! Há coisas que só ELE pode fazer, coisas que são impossíveis aos homens.
Temos consciência que no período que Abraão viveu, aproximadamente dois mil anos antes de Cristo, não havia radiotelescópio, mas, pela fé, Abraão teve uma grande visão, indo, sem dúvida, além de qualquer perspectiva humana. E Deus lhe disse: “Assim será a tua descendência”. “ASSIM”, quer dizer, de acordo com a visão que tiveste. Deus tinha algo especial para realizar pela instrumentalidade de Abraão, e realizou porque ele creu. Deus capacitou Abraão, para que ele fosse uma bênção. Como?
2.2. Abraão recebeu as estratégias para cumprir a missão
Deus colocou no coração de Abraão aquilo que Ele mesmo havia planejado para o mundo – salvação para todas as pessoas de todas as nações e raças. Deus quer que tenhamos a SUA visão, que é elevada e ampla, e não que nos amesquinhemos com coisas pequenas. Deus deseja que tenhamos ambições sadias na profissão, no ministério, na família e pessoalmente. Precisamos estabelecer alvos baseados na vontade de Deus e acreditar que Ele nos ajudará a alcançá-los. Se acreditarmos naquilo que Deus pode fazer através de nossas vidas, então alcançaremos grandes coisas para a glória d’Ele.
Em se tratando de ministérios, há muitos que são pequenos, e outros com repercussão mundial. A diferença não está em Deus, que é o mesmo; mas na visão. Uma pessoa vai até onde sua visão alcança, por isso precisamos ter a visão de Deus para o ministério. Trabalhar sem a visão de Deus é uma grande perda de tempo e dinheiro.
Enquanto Abraão estava dentro de sua casa (tenda), sua visão era pequena – o chão, quatro paredes e o teto – e estava desanimado com as promessas e até  duvidando. Então Deus o chamou para fora das quatro paredes de sua casa e apontou para o céu e o texto diz: “Então o levou para fora e disse: Olha agora para o céu”. É como se Deus lhe dissesse: pare de olhar para o chão, levante a cabeça! Olhe para o céu, olhe para MIM.  É isso mesmo, precisamos parar de olhar para as circunstâncias da vida, para nossas limitações e olhar para o poder de Deus. Pois “para Deus nada é impossível”.
No Evangelho, escrito por Lucas, lemos que Jesus curou uma mulher possessa, que andava encurvada havia dezoito anos. Dezoito anos olhando para o chão e Jesus lhe disse: “endireita-te” e sua visão foi ampliada, tornando-se elevada e grande. Entendemos que o maior estrago que Satanás faz na vida de uma pessoa ou igreja é encurvá-la para que não tenha uma grande visão, ao contrário, ele quer que as pessoas vivam olhando para o chão, para as circunstâncias ou para os problemas e gaste toda a vida nisso. Mas Deus diz: “olhe para o céu…. olhe para mim!”
Deus nos convoca nessa hora para que elevemos nossa visão, olhando para o céu, olhando para Ele mesmo, o Todo-Poderoso. Quando alguém vai fazer algo, precisa ter a visão de Deus para o trabalho a desenvolver. Pois se achar que não vai dar certo, já não deu, não vai acontecer nada, porque uma pessoa só vai até onde sua visão alcança. Lembre-se: “onde não há visão o povo se corrompe”. Isto é, fica perdido, sem rumo, e não chega a lugar algum.
No Reino de Deus não há lugar para pessoas pessimistas e para confirmar isso podemos nos reportar a experiência de Moisés no envio dos doze espias à terra de Canaã. Todos viram as mesmas coisas, mas apenas dois tiveram uma visão das possibilidades daquele lugar, e entraram na terra. Os outros dez foram pessimistas, só viram as dificuldades e morreram no deserto.
Deus tem muita coisa para fazer através da vida daqueles que acreditam em Suas promessas. É necessário fazer alguma coisa, mesmo que seja contar estrelas, mas olhando além das nuvens, olhando para Deus, crendo nas promessas de Deus, crendo que Deus fará uma grande obra através da vida daqueles que submetem – se a Ele e os sonhos tornar-se-ão realidade.
Quando a Junta de Missões Nacionais nos enviou para o Vale do Piancó, sabíamos que estávamos pisando em terra difícil. O Evangelho era discriminado e os cristãos ridicularizados. Era considerada, na época, a região mais resistente ao Evangelho, em se tratando da Paraíba. Economicamente, uma miséria; criminalidade assustadora e muita pistolagem, mas saímos do Rio de Janeiro na certeza que Deus nos daria muitas pessoas naquela região, vidas seriam transformadas e viajamos crendo nas promessas de Deus. Em novembro de 1984 visitamos a região e pela fé víamos uma igreja em cada cidade daquela parte do sertão, muita gente convertendo-se a Jesus Cristo. A visão ou sonho que Deus colocou em nossos corações tornou-se realidade. Em uma das regiões mais pobres da Paraíba, Deus continua salvando homens e mulheres, centenas de pessoas e levantando dezenas de líderes capazes para o trabalho. Deus mudou aquela região.
2.3. Abraão viveu focado na missão
Deus nos chama para um trabalho sem fim, como contar estrelas. A Bíblia diz: “Não será aqui o vosso descanso”. E não será mesmo! Missões e principalmente plantação de igrejas é para pessoas que tenham muita disposição para trabalhar.
Deus mandou Abraão contar estrelas, e esse era um trabalho enorme, que nunca chegaria ao fim. Idêntico é nosso trabalho no Reino – precisamos trabalhar sempre – o ministério não pode ser inconsistente nem fazer a obra do Senhor relaxadamente. Para alcançar resultados, não podemos parar no meio do caminho. É necessário aceitar cada desafio apresentado tendo a visão divina e trabalhar sempre, sem esmorecer, focados nessa visão.
Para ter resultados é preciso tirar de nosso vocabulário as expressões: “Não vou conseguir”, “não vai dar certo”, “isso não funciona”. E usar expressões como: “Tudo posso naquele que me fortalece”, “Não há coisa impossível para Deus”, “Deus está nesse negócio e dará certo”.
Se Abraão tivesse dito a alguém que o Senhor o havia mandado contar as estrelas do céu, e que sua descendência seria como as estrelas do céu, certamente o chamariam de louco. Pois Abraão e Sara não tinham filhos, nem idade para tê-los, mas acreditavam em Deus, que age no impossível. Às vezes temos medo de ir em busca daquilo que Deus prometeu, por causa do julgamento das pessoas, mas não podemos ficar preocupados com aquilo que os outros vão pensar ou dizer, “Crê somente” é a ordem Divina.
Quando iniciamos a construção do templo da Igreja Batista de Itaporanga (1997), a receita média mensal era de um mil e oitocentos reais, e quase toda comprometida com despesas internas e a obra missionária na região. No entanto, construímos um templo de mais de noventa mil reais em menos de três anos e não faltou dinheiro, nunca atrasamos um pagamento sequer, não deixamos de enviar plano cooperativo, e durante o período levantamos as três ofertas missionárias a cada ano. Uma loucura aos olhos humanos, porque a igreja não teria humanamente falando, recursos financeiros para esta obra. Mas Deus deu a visão e a igreja aceitou e todos os membros se envolveram como se fosse a construção de suas próprias casas. Investiram tudo que puderam. Deus prometeu abençoar o esforço de seu povo e foi isso que aconteceu. Todos trabalharam sempre até a conclusão do projeto e aquilo que era uma visão ou sonho tornou-se realidade.
2.4. Obstáculos para alcançar a visão e cumprir a missão
As coisas de Deus não podem ser medidas por uma visão meramente humana.
Isso acontece, principalmente, quando as pessoas não acreditam no sobrenatural e estão sempre olhando para o chão ou para as circunstâncias que as cercam. O primeiro obstáculo para alcançar a visão e cumprir a missão é viver focado em uma visão meramente humana é uma barreira. Para Abraão ter um descendente se constituía um grande milagre. Sara era estéril e humanamente falando não tinha condições de gerar filhos. Em alguns momentos esqueceram que a visão humana não vê tudo; é necessário viver confiados no poder de Deus. O segundo obstáculo é confiar apenas em recursos humanos. Com Galileu Galilei e a descoberta do radiotelescópio houve possibilidade de ver noventa mil estrelas. De Abraão e Sara, Deus queria muito mais e sua descendência foi maior do que qualquer pessoa pudesse imaginar. Não podemos limitar nossa visão a recursos humanos apenas. Precisamos ir mais longe.
Abraão estava fundamentado nas promessas de Deus e creu. E nos impressiona o testemunho que Jesus deu sobre a fé e visão de Abraão: “Abraão, vosso pai, regozijou-se por ver o meu dia; ele o viu e alegrou-se”.  Jesus está dizendo que Abraão O viu dois mil anos antes de seu nascimento. A isso podemos chamar visão de futuro.  Abraão viu Jesus Cristo e ficou alegre; é simplesmente esplêndido! É como se uma pessoa ainda solteira pudesse ver o nascimento de seu filho dez ou vinte anos à frente.
Não podemos nos limitar pelas perspectivas humanas; precisamos ver aquilo que Deus tem para nós; andar um passo após outro, um degrau após outro, mas sempre olhando para o alto, sempre olhando para Jesus.
2.5. Elementos que ajudam cumprir a missão
Precisamos aprender a ver com os olhos da fé, além da realidade. O primeiro elemento para alcançar a visão e cumprir a missão é ter um coração esperançoso. Deus deseja encontrar homens e mulheres que tenham um coração cheio de esperança; que acreditem nas promessas contidas em Sua Palavra. Esse foi o testemunho dos dois espias que entraram em Canaã, Josué e Calebe:
Então Calebe fez o povo calar-se diante de Moisés e disse: Temos de subir e nos apoderar dela, pois com certeza conseguiremos prevalecer contra ela. E falaram a toda comunidade dos israelitas: A terra por onde passamos para conhecê-la é extraordinária. Se o Senhor se agradar de nós, então, nos estabelecerá nessa terra e a dará para nós, terra que dá leite e mel.
Apenas não sejais rebeldes contra o Senhor e não temais o povo desta terra, pois será comido por nós como pão. Eles estão sem defesa, e o Senhor está conosco. Não os temais.
Moisés enviou doze espias para olhar a terra e trazer um relatório. Todos andaram na mesma região e, viram as mesmas coisas, mas o relatório foi diferente. Dois voltaram motivados, enquanto os outros dez trouxeram relatório pessimista, dizendo que não havia condições de entrar.
E, prestando contas a Moisés, disseram: Fomos à terra a qual nos enviaste. Ela, de fato, dá leite e mel; e este é o seu fruto. Contudo o povo que habita nessa terra é poderoso, e as cidades são fortificadas e muito grandes. Vimos também ali os descendentes de Anaque… Mas os homens que haviam subido com eles disseram: Não conseguiremos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós. Então, depreciaram diante dos israelitas a terra que haviam sondado: A terra por onde passamos para conhecê-la, é uma terra que devora seus habitantes; e todos os que vimos nela são homens de grande estatura. Também vimos ali os nefilins, pois os descendentes de Anaque procedem dos Nefilins; éramos como gafanhotos aos nossos próprios olhos; e também aos olhos deles.
O segundo elemento que ajuda alcançar a vitória é ter uma atitude perseverante. Abraão Lincoln é um grande exemplo de homem perseverante em busca de um alvo. Candidatou-se a deputado e perdeu. Depois se candidatou a prefeito e perdeu. Tentou ser senador e perdeu. Então concorreu a governador e perdeu. Finalmente candidatou-se a presidente e ganhou. Sua perseverança o empurrou para cima.
O terceiro elemento que ajuda a alcançar o que Deus lhe deu como visão é ser animado com as promessas de Deus. As promessas rejuvenesceram Josué e Calebe. Poderiam pensar que não teriam idade para gozar as promessas de Deus, mas o cumprimento veio na hora certa. Deus entristeceu-se com a atitude de incredulidade de Israel e decidiu matar o povo antes que entrasse na terra de Canaã. Mas Moisés intercedeu em favor do povo, pedindo a Deus perdão pelos pecados de Israel. O resultado de tamanha incredulidade foi a peregrinação por quarenta anos no deserto até que aquela geração desobediente morresse.
Mas tão certo como eu vivo, e como a gloria do Senhor encherá toda a terra, nenhum de todos os homens que viram a minha glória e os sinais que fiz no Egito e no deserto, e mesmo assim me tentaram estas dez vezes, não obedecendo a minha voz, nenhum deles verá a terra que prometi a seus pais com juramento. Nenhum daqueles que me desprezaram a verá. Mas o meu servo Calebe, eu o levarei para a terra em que entrou, e a sua posteridade a possuirá, porque teve outro espírito e perseverou em seguir-me.
O quarto elemento para alcançar a visão e cumprir a missão é ter razões específicas pelas quais lutar. Josué e Calebe tinham um alvo; acreditaram; lutaram; e conquistaram a vitória. Com fé, perseverança e esperança, alcançaram o que Deus havia prometido. Deus quer que olhemos para Ele, e prossigamos em direção ao alvo.
Só conseguiremos chegar até onde vai nossa visão. Se ela nos falta, devemos pedi-la a Deus. Não poderemos ser úteis no Reino de Deus se nos falta à visão do ministério a realizar, pois nos tornaremos pessoas sem rumo. Jesus trabalhou três anos com um grupo de doze, dando-lhes a visão necessária para que pudessem prosseguir na caminhada. Deu-lhes visão de si mesmos, de Deus, do Reino e da missão; e os capacitou para o trabalho. Se quisermos idênticos resultados, precisaremos percorrer o mesmo caminho.
Agora que aprendemos sobre a necessidade de ter a visão de Deus é necessário orar pedindo a ELE que nos dê a visão para o ministério para o qual nos chamou e a obra que deseja realizar através de nossas vidas; o desafio é escrever o que Deus está nos mostrando e perseguir isso até o fim. Ter clareza daquilo que Deus quer que realizemos em nome d’Ele.
É preciso lembrar que estas pessoas que receberam de Deus a visão, tiveram que pagar um alto preço; foram provadas, sofreram injúrias, mas nunca desistiram da caminhada rumo ao alvo e perseguiram a visão que Deus havia colocado em seus corações. Quem tem visão, tem alvos e persegue-os até alcança-los. Por isso, uma das coisas mais importantes para um líder é ter a visão de Deus para o ministério a desenvolver.
3. IDENTIFICAR E CAPACITAR LÍDERES
Não há como pensar na multiplicação de discípulos e igrejas sem a multiplicação de líderes. O líder deve se assegurar de que seus discípulos estejam sendo treinados adequadamente e que estejam investindo nos novos cristãos através do relacionamento discipulador; mas também observar aqueles que se destacam com perfil de liderança ou líderes em potencial e treiná-los para a multiplicação de discípulos, pequenos grupos e plantação de novas igrejas.
Lembrando que a multiplicação de cristãos e igrejas depende da multiplicação de líderes, e o papel principal do líder é treinar novos líderes, conforme entendimento de Paulo, que disse:
E Ele designou uns como apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas, e ainda outros como pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério e para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo.
Em Atos encontramos quinze referências à formação de novos líderes, conforme destacamos a seguir: (Atos 1.26; 6.3; 11.25,26; 13.1,5; 15.37-40; 16.1; 18.24,25; 18.26; 19.1; 19.10 e 22; 20.3-4; 21.8; 21.10; 21.16;).
3.1.A formação de líderes – princípio bíblico
Ser pastor ou missionário nunca foi tarefa fácil, principalmente para aqueles que levam a sério o chamado Divino. Os desafios que líderes enfrentam no cumprimento da missão são grandes, maiores, muitas vezes, que nossa capacidade humana. Além das necessidades espirituais, ainda surgem aquelas que vêm como decorrência do estilo de vida da era contemporânea, tais como, distúrbios emocionais, desvios de caráter, inversão de valores e tantas outras tendências que existem no mundo pós-moderno.
Ser líder de uma igreja, cujo trabalho principal implica na restauração completa de indivíduos; onde a responsabilidade é ajudar aos semelhantes para que tenham um encontro real com o Senhor Jesus Cristo e ainda ajudar na cura de seus traumas e cheguem a maturidade cristã, tão necessária para alcançar seus objetivos e cumprir sua missão no mundo, é trabalho sério e não está limitado apenas à manutenção de cultos. O trabalho é mais abrangente – equipar os santos – para que se tornem participantes da obra missionária usando seus dons e talentos.
É necessário que cada cristão se torne um soldado nesse grande exército que luta contra o pecado e contra Satanás; torne-se um discípulo de Jesus Cristo, completamente integrado ao corpo. É preciso ter coragem para encarar a realidade e perceber que ainda estamos muito longe de alcançar o que Deus deseja. O mundo continua agonizando e precisa de pessoas que sintam compaixão dos milhões de pessoas que vivem sem Deus e sem salvação. É preciso olhar para a obra missionária e entender que pouco está sendo feito diante dos grandes desafios; há dificuldades enormes que precisam ser vencidas e não podemos parar de lutar se quisermos alcançar a Pátria para Cristo. Nossa responsabilidade é colocar a coisa certa no lugar certo; é nosso dever encontrar a estratégia e a metodologia certas para trabalhar com a comunidade que Deus colocou em nossas mãos.
Os grandes desafios da igreja não são apenas aqueles impostos pelas tendências pós-modernas, mas aqueles que nos perseguem desde o início. Um desses desafios é a falta de uma liderança preparada para a obra missionária; talvez o mais grave de todos os problemas que enfrentamos. Não há como contabilizar o dinheiro que já foi gasto na plantação de igrejas e algumas sequer existem na atualidade; há igrejas que foram fortes no passado mas enfrentam dificuldades no processo de crescimento como consequência da falta de uma liderança capaz. Esse é um dos problemas que encontramos em todas as regiões de nosso país.
Quantos estão a interrogar, por exemplo, a respeito do grande número de igrejas sem pastores e de pastores sem igreja?  Os seminários estão formando centenas de bacharéis anualmente, mas a obra missionária continua prejudicada pela falta de obreiros e por isso não consegue atender todos os desafios. O que está acontecendo? Ou, o que está errado?
Posso citar ocorrências nas diversas regiões do Brasil. A cidade de Coremas no estado da Paraíba, na década de 50 tinha uma das mais fortes igrejas do sertão, com registro de ofertas missionárias desse tempo, mas em 1970 foi dissolvida e até o templo vendido por falta de liderança. Em 1985 reiniciamos o trabalho na casa de um remanescente e muitas pessoas creram em Jesus e foram batizadas; depois compramos terreno e construímos um novo templo. Por que aquela igreja se dissolveu? Qual foi o problema? Com certeza não foi hostilidade do povo! Mas a falta de líderes capacitados para dar continuidade ao trabalho.
Quantos obreiros trabalham anos seguidos em uma cidade, dando o melhor de si, mas quando transferidos para outro campo, aquele trabalho fica marcando passo e às vezes entra em processo de estagnação e morte? Aí chega um novo pastor e trabalha mais cinco ou seis anos, depois vai embora e o trabalho volta a quase zero. Imagine quantos anos de investimento em salários, aluguéis, e o trabalho não decola! Esse é um dos maiores problemas que enfrentamos na atualidade. O que fazer então? É preciso investir na multiplicação de líderes para que as igrejas não sofram com a falta de continuidade.
Minha decisão por Jesus Cristo ocorreu em 1977 durante o projeto Jesus Transforma no estado de Santa Catarina. Três anos depois saímos da cidade para o seminário, e em seguida atendemos ao chamado divino para o Nordeste, onde trabalhamos na plantação de igrejas. O trabalho em nossa cidade natal tem mais de três décadas e a igreja continua se arrastando. Muitos dizem que o problema é a frieza do povo sulista, mas não podemos aceitar, uma vez que as outras denominações crescem muito na mesma região. É sem dúvida um problema nosso, Batista. A falta de continuidade naquele trabalho prejudicou a igreja. Cada vez que um pastor saía era um trauma para a igreja, que ficava muito tempo sem liderança, e com isso houve a saída de seus membros e outras igrejas surgiram com as pessoas dispersas daquela igreja.
Deus nos convocou para trabalhar na plantação de Igrejas no sertão da Paraíba, mas confesso que tivemos medo de passar pelos problemas que já havíamos observado em outros lugares. Quando chegamos na região onde estava nosso grupo-alvo, a primeira coisa que vimos, foi uma igreja com vinte anos de organização oficial, mais sete anos como congregação, com apenas oito membros. Em cidades próximas, havia igrejas estagnadas, fechando as portas de seus templos. Foi mais um motivo para temer, tremer e refletir sobre o ministério a realizar. Pedimos a Deus ajuda em nosso ministério, pois não queríamos gastar nossas vidas e depois olhar para trás e ver o trabalho sem vida e templos fechados.
Sabemos que há obreiros que não estão preocupados com esse problema e dizem que não são responsáveis pelo que acontece depois de seus ministérios, pois fizeram um trabalho sincero e honesto. E há até os que desejam que o trabalho sofra no processo de crescimento após sua saída, para que a igreja sinta sua falta.
Como pastores, devemos preparar a igreja para andar, para prosseguir no cumprimento de sua missão, se isso não acontecer, fica claro que não fomos bons líderes. A igreja precisa ser preparada para andar independentemente da pessoa do pastor. Aliás, o papel principal do pastor é formar outros líderes para conduzir a igreja, e dessa forma dará longevidade ao seu ministério.
Outro grande problema para a igreja é a sucessão pastoral. Sabemos que há situações em que a igreja faz festa na saída do pastor; principalmente quando houve desgaste de ambas as partes. Mas normalmente a igreja sente muito com a saída do seu pastor, e tem dificuldades para se adaptar ao novo pastor e modelo de ministério e com isso vêm discórdias e muitas divisões entre o povo de Deus. A diferença brusca na visão ministerial e a mudança rápida no modelo de ministério tem causado muitos transtornos para as igrejas e prejuízos para o Reino de Deus. Por esses e outros motivos precisamos investir na multiplicação de líderes em nossos ministérios.
Se Moisés não tivesse preparado Josué, seu trabalho teria sido um fracasso; o que adiantaria tanto trabalho naquele deserto escaldante, tanto sofrimento, e o povo teria morrido às margens do Jordão. Se Josué não tivesse sido preparado para dar continuidade ao trabalho ou ministério de Moisés, o povo ficaria disperso e Moisés entraria na história, não pelo trabalho realizado na condução do povo de Israel, mas pela tragédia que causaria ao povo. A glória, o sucesso de Moisés dependeu do desempenho de seus sucessores, a quem treinou para este trabalho. Se Josué não tivesse conquistado Canaã, Moisés teria sido odiado pelos Israelitas até hoje, e não seria visto como um de seus maiores líderes como tem acontecido.
Assim o nosso sucesso ou fracasso depende de quem vem depois de nós; por isso é preciso gastar tempo no preparo de uma liderança eficaz para as igrejas existentes e também para as que forem plantadas. Sem multiplicação de líderes não haverá multiplicação de igrejas. A multiplicação de líderes é, pois, um trabalho indispensável e urgente.
3.2.Jetro foi mentor de Moisés
No livro de Êxodo encontramos uma orientação segura quanto à necessidade que temos de auxiliares e sucessores; isso é percebido na primeira batalha enfrentada pelos israelitas contra os amalequitas. Josué foi enviado com um grupo de soldados à peleja enquanto Moisés subiu ao cume do monte acompanhado de Arão e Ur. Enquanto Moisés permanecia com as mãos levantadas, Israel prevalecia; quando, porém, baixava as mãos, prevalecia Amaleque. Seus dois auxiliares, Arão e Ur, desempenharam função importante colocando uma pedra debaixo de Moisés para que assentasse e eles então sustentaram suas mãos até o fim, e os amalequitas foram derrotados, completamente vencidos.
Mas não foi só isso, agora aparece na história de Moisés um homem muito sábio, trata-se de Jetro, sacerdote em Midiã, seu próprio sogro. Ele veio ao encontro de Moisés trazendo Zípora e seus dois filhos, Gerson e Eliezer. Enquanto Moisés julgava o povo, o experiente sacerdote só observava. Depois chamou o genro e deu seu parecer sobre o trabalho. Moisés trabalhava muito, desde a manhã até ao anoitecer; pensava que estava abafando, mas o sogro não gostou do que viu, e interrogou: “Que é isto que estás fazendo com o povo? Por que fazes isto sozinho, deixando todo o povo em pé diante de ti, desde a manhã até a tarde?”. Moisés começou justificar sua atitude: E disse: “É porque o povo vem a mim para consultar a Deus. Quando tem alguma questão, eles vêm a mim; e julgo entre eles e lhes declaro os estatutos de Deus e as suas leis”.  É possível que Moisés estivesse esperando um elogio, mas foi repreendido pelo sogro, que disse: “O que estás fazendo não é bom. Com certeza, tu e este povo que está contigo desfalecereis, pois a tarefa é pesada demais; não podes fazer isso sozinho”.  Jetro, com sua experiência, deu conselhos a Moisés:
Ouve-me agora. Eu te aconselharei, e que Deus esteja contigo: Deves representar o povo diante de Deus, a quem deves levar as causas do povo; ensina-lhes os estatutos e as leis, mostra-lhes o caminho em que devem andar e a obra que devem praticar. Além disso, procura dentre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, homens confiáveis e que repudiem a desonestidade; e coloca-os como chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez; para que eles julguem o povo todo o tempo. Que levem a ti toda causa difícil, mas que eles mesmos julguem toda causa simples. Assim aliviarás o teu fardo, pois te ajudarão a leva-lo. Se procederes assim, e se Deus desse modo te ordenar, poderás suportar; e todo este povo também voltará para casa tranquilo.
Este é um dos muitos textos bíblicos que tratam de liderança. Vemos que o bom líder não é aquele que faz tudo sozinho, mas aquele que divide as tarefas com outros líderes por ele preparados. Foi assim que Deus falou por intermédio de Jetro. E Moisés jamais teria chegado onde chegou se não tivesse compartilhado o trabalho com seus auxiliares e se não tivesse preparado seu sucessor. Moisés preparou Josué; assim como Elias preparou Eliseu; Jesus preparou doze; Barnabé preparou Paulo, que preparou Silas, Timóteo, Tito e outros. Precisamos, da mesma forma, preparar líderes para que nossas igrejas não sofram no processo de crescimento em seus ministérios e para que se multipliquem, para a Glória de Deus.
3.3.A formação de líderes como tarefa urgente
Formação de novos líderes deve ser prioridade para o líder. Nossa vida está limitada ao tempo, pois nunca sabemos quantos anos temos pela frente; uma coisa é certa, sozinhos não conseguiremos chegar muito longe. Qualquer um pode sofrer o impedimento de seu ministério, e como ficará o trabalho?  Se você descobrisse que só lhe restam quatro meses de vida, o que faria nesse período? É responsabilidade nossa treinar pessoas para dar continuidade ao trabalho que estamos fazendo, ou então curtir o dissabor de ver o trabalho marcando passo. Em quatro meses não poderíamos ganhar o mundo, mas podemos treinar algumas pessoas, que treinariam outras, e o trabalho continuaria se multiplicando.
Ao analisar a vida e ministério de Jesus Cristo, percebe-se que Ele estava ciente de seu resumido tempo de ministério, aproximadamente três anos e meio. Se Ele tivesse pensado em evangelizar o mundo em três anos e tivesse comprado um jumento para viajar, pois esse era o meio de transporte da época, não teria conseguido andar muito além da Palestina. Jesus Cristo investiu seu tempo nos doze e os treinou para continuar na obra de evangelização do mundo. Ele é o maior exemplo em preparação de líderes, não deixou de evangelizar, curar os enfermos, alimentar os famintos, mas investiu pesado na formação de novos líderes (os doze), que deram continuidade ao seu ministério. E por meio dos discípulos a salvação chegou até nós; e, se trabalharmos na formação de novos líderes o Evangelho chegará até os confins da terra e alcançará outras gerações.
Ninguém é eterno em sua existência terrena, os dias correm como o vento e rapidamente chega-se ao fim da vida. É preciso, como Jesus, pensar em ministérios mais consistentes e duradouros. O caminho é a formação ou multiplicação de líderes. Como disse, centenas de igrejas estão sofrendo com pouco crescimento por falta de líderes preparados; e esse é um quadro que precisa ser mudado em nosso país e no mundo.
Então o maior problema da igreja não é o pecado, que se espalha rapidamente; não são as seitas heréticas; o secularismo; mas a falta de uma liderança apaixonada por Jesus Cristo e pelos perdidos. A única maneira para mudar a situação é o investimento na formação de uma liderança capaz.
Um dos maiores erros das igrejas é ficar à espera de líderes que venham de fora para fazer o trabalho. Muitas vezes essa espera é longa, o investimento financeiro é grande e o ministério curto demais; não há tempo sequer para adaptação e muitas famílias de obreiros e as próprias igrejas sofrem traumas de um ministério fracassado.
Quando falamos em treinamento de liderança, estamos falando em um dos assuntos mais sérios e urgentes da igreja na atualidade. É uma estratégia para alcançar nosso país e o mundo com a mensagem salvadora de Jesus Cristo. Cada igreja precisa fazer a obra missionária treinando, enviando e sustentando seus obreiros, e o pastor é responsável em levar a igreja cumprir a Grande Comissão. É preciso orar, pedindo a Deus mais trabalhadores para a seara e treiná-los para a realização da obra missionária, e assim a igreja alcançará o mundo.
3.4.Características que identificam novos líderes
O conselho de Jetro continua sendo eficaz na atualidade, pois as mesmas qualidades que ele apresentou para um líder, há 3.400 anos, devem ser observadas no terceiro milênio.  Ele disse: “Escolha homens CAPAZES, homens TEMENTES A DEUS, homens CONFIÁVEIS, homens que REPUDIEM A DESONESTIDADE.” . Esse texto mostra as características que identificam líderes em potencial.
Cada líder deve trabalhar, olhando para as pessoas que estão diante de si, e ver suas qualidades. Quando uma pessoa se destaca na liderança não deve ser vista como um adversário, como alguém que vai competir conosco, mas como alguém que pode ser treinado. Devemos investir o máximo que pudermos nessas pessoas para que se tornem líderes, grandes líderes e até melhores do que nós. O líder não precisa ter medo de investir no desenvolvimento de líderes em potencial pois serão a nossa coroa.
Quando Jetro falou em pessoas CAPAZES, estava dizendo que alguém que vai exercer liderança precisa ser capaz, física, emocional, moral, intelectual e espiritualmente. Se uma pessoa não é capaz, não pode exercer liderança. Uma pessoa que não é capaz de cuidar de seus problemas, também não será capaz de ajudar no cuidado dos problemas de seus semelhantes. Precisa ser capaz e por isso capacitado nas áreas com limitações.
Que sejam homens TEMENTES A DEUS, que levem a sério sua própria comunhão com Deus, que tenham vida devocional; que sejam bem-sucedidos no cuidado espiritual pessoal e familiar.  Pois nem todas as pessoas têm condições de estar na liderança da igreja do Senhor Jesus Cristo. Precisamos de pessoas tementes a Deus, isto é, caracterizadas pela fé.
Que sejam homens CONFIÁVEIS, pessoas que não tenham sua honestidade comprometida, que tenham seus negócios limpos, seus pagamentos em dia, que não devam nada a ninguém a não ser o amor. Homens que não tenham identidade dúbia. Pessoas de palavra, onde o sim é SIM e o não é NÃO.
Que sejam homens que REPUDIEM A DESONESTIDADE, pois no reino de Deus não há lugar para essa classe de pessoas. Quem deseja enriquecer financeiramente de forma ilícita deve procurar outro tipo de trabalho, pois na igreja somos convocados a viver de forma honesta, a dar nossas vidas e tudo que temos e somos.
Precisa-se observar pessoas com estas qualidades e investir nelas sem medo, pois serão grandes líderes. Estas são qualidades interiores importantíssimas, e o maior segredo de um líder são os segredos de seu interior.  Se não conhecermos os segredos de nosso interior tendo domínio sobre eles, nenhuma regra de liderança terá sucesso. O conselho de Jetro resume as qualidades de um líder: integridade, humildade, espiritualidade, coragem e dinamismo.
3.5.A capacitação de líderes autóctones
“Ensina-lhes os estatutos e as leis, mostra-lhes o caminho em que devem andar e as obras que devem praticar”.  Ensinar é treinar. O desafio para nós é investir na vida das pessoas que julgamos capazes para a obra.  Mas como fazer este trabalho?
A primeira ação no treinamento é passar a visão correta do Reino de Deus, pois “Onde não há visão o povo perece”. Nossa vida transcorrerá de acordo com a visão que temos; vivemos e reproduzimos de acordo com nossa visão. E todo trabalho de treinamento começa com a visão que compartilhamos com as pessoas que desejamos ajudar. Se a visão de uma pessoa está errada, o que ensinamos será desvirtuado e perdemos tempo com o ensino.
Outra etapa é compartilhar tudo que sabemos e o que está ao nosso alcance. Há muitos bons livros que ajudam, e incentivá-los ao estudo, é uma importante decisão. Há também cursos teológicos ao alcance de qualquer pessoa. Ajudá-los na formação teológica. Dar oportunidade para que trabalhem, fazendo a mentoria, e ajudando nas áreas que os novos líderes precisam melhorar.
Isso está ao alcance de todos, até nas regiões mais distantes deste país. Nossa experiência no sertão mostra que é possível treinar as pessoas onde elas estão; pois dificilmente uma igreja do sertão teria condições de pagar um curso teológico para seus vocacionados em cidades distantes e, além disso, as pessoas que saem para estudar fora, dificilmente voltam para trabalhar na cidade ou região de origem.
Um curso teológico no local onde o aluno está envolvido com o trabalho, dirigindo uma nova igreja, não tem comparação. Fizemos isso durante os 26 anos em nosso ministério. Trabalhamos em uma região extremamente pobre, longe de locais onde há seminários, mas aproveitamos para treinar os discípulos com perfil de liderança e contamos hoje com uma grande equipe de líderes preparados, mais de 40 entre pastores e missionários estão envolvidos com a obra missionária.
Levamos os novos discípulos para as clínicas de treinamento que aconteceram na Convenção ou Associação. Muitas vezes tivemos que pagar as inscrições destas pessoas, além de levá-las até o local das reuniões. Depois conseguimos levar cursos para a região onde residiam, e assim foram sendo preparadas para o trabalho. Iniciamos com o curso elementar em Educação Religiosa, fornecido pelo Seminário de Educação Cristã – Recife, com dois anos de duração; curso médio de Teologia em parceria com o Instituto Bíblico Brasileiro; Licenciatura em Teologia pela Associação Brasileira de Educação, Cultura, Assistência e Religião – Mogi das Cruzes; e ultimamente uma extensão do Instituto Teológico Batista de Ensino Superior da Paraíba, com o curso de Teologia (bacharelado). Isso mostra que é possível treinar os membros da igreja em qualquer região do Brasil.
O treinamento de líderes exige tempo e coragem, mas é o trabalho mais compensador pode-se fazer. Olhar para trás e ver as pessoas que treinamos desenvolvendo ministérios frutíferos é o maior prêmio que poderíamos receber como missionários. Isso nos dá uma enorme satisfação e sentimento de realização pessoal e ministerial.
Um dos maiores impedimentos na realização da obra missionária é a falta de liderança capaz, que esteja disposta a pagar o preço de um ministério bíblico. As igrejas estão prontas para investir quando o obreiro tem visão divina. Nos anos de trabalho no Nordeste treinamos uma liderança local, quebrando o tabu de que a liderança das Igrejas teria que vir de fora.
Trabalhamos em mais de vinte localidades entre cidades e bairros na Paraíba, batizamos mais de oitocentas pessoas que creram em Jesus; construímos nove templos e sete casas pastorais; criamos a cooperativa de profissionais de ensino e trabalhadores em atividade meio que implantou quatro colégios. Mas este não foi o trabalho mais importante! O que mais alegra nossos corações é ver que a liderança de quase todas as igrejas e colégios é formada por pessoas que batizamos e treinamos. Saímos da região para um novo ministério, com o coração tranquilo, porque deixamos pessoas preparadas para continuar a obra que iniciamos, esperando que eles continuem treinando líderes e plantando novas igrejas, como tem acontecido até aqui.

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