O sofrimento na experiência cristã

Texto: Isaias 53: 1-12



Introdução

A Igreja evangélica de nosso tempo, fala muito de conquista e vitória. Há uma tentativa de eliminar da experiência cristã qualquer dor ou sofrimento. E com isso atribui-se qualquer sofrimento como autoria de satanás. No entanto, quando nos voltamos para as experiências de vida dos homens e mulheres da Bíblia, constatamos frequentemente que o sofrimento fez parte de um processo de aproximação de Deus. Por isso poderíamos indagar: Qual seria o lugar do sofrimento na experiência humana? Isaias 53 é o texto mais citado em o novo testamento, onde destaca o sofrimento de Jesus Cristo. Num primeiro momento a profecia fazia sentido para os ouvintes daquela época; num segundo momento o texto se cumpre em Jesus; e num terceiro, se aplica a vida da Igreja até hoje. O verso 11 nos chama atenção quando diz que “o Meu Servo, chamado justo, com seu conhecimento justificará a muitos”. O que o conhecimento teria a ver com a justificação? Examinemos, pois, este fato:

I- Quem é o sujeito desse conhecimento?


A expressão “seu conhecimento” pode ser entendida de duas maneiras distintas, cuja interpretação depende de definirmos o sujeito desse conhecimento. a) O sujeito pode ser o SERVO. Isaias começa seu livro mencionando a falta de conhecimento do povo de Deus, e pode-se entender que o SERVO seria aquele que possuiria conhecimento de Deus para justificar o povo sem conhecimento. “Criei filhos e os engrandeci, mas eles se rebelaram contra mim. O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, a manjedoura de seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende. Ah! Nação pecadora, povo carregado de iniqüidade, descendência de malfeitores, filhos que praticam a corrupção! Deixaram o Senhor, desprezaram o Santo de Israel, voltaram para trás” v. 2b, 3 e 4. b) O sujeito pode ser MUITOS. Nesse sentido sugere que o servo é o objeto do conhecimento que muitos obterão. Nesse caso, serão justificados os que tiverem fé no “SERVO”, que é Cristo. Ao conhecerem o servo, serão justificados. E esta interpretação está de acordo com o ensino do Novo Testamento, sobre o conhecimento de Deus e a fé em Jesus Cristo.

II- Que conhecimento é esse?

Somos muito influenciados pela modernidade quando se trata da compreensão da palavra CONHECIMENTO; pois logo nos vem a mente o conhecimento intelectual, racional. Entretanto, o conceito hebraico de conhecimento é muito mais amplo – sugere um conhecimento experimental, que é muito mais do que racional. É o conhecimento que se adquire com a experiência. E aí voltamos mais uma vez ao inicio do livro do profeta, onde condena a religiosidade do povo, pois lhe faltava o conhecimento experimental. “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? Diz o Senhor. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados; e não me agrado de sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu de vós isto, que viesses pisar os meus átrios? Quando estenderdes as vossas mãos, esconderei de vós os meus olhos; e, ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos; tirai de diante de meus olhos a maldade dos vossos atos; cessai de fazer o mal; aprendei a fazer o bem; buscai a justiça, acabai com a opressão; fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva. Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados são como o escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que são vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a lã. Is. 1:11-12, 15-18. Se o sujeito é o SERVO, significa que na sua experiência (com o sofrimento) ele justificará a muitos. Se o SERVO é o objeto do conhecimento, significa que as pessoas serão justificadas pela experiência pessoal que terão com o SERVO. João, expressa a essência da vida eterna como sendo o conhecimento de Deus. “E a vida eterna é esta: que te conheçam a TI como único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” João 17:3. O conhecimento se refere à experiência de vida com Deus, que se relaciona com o viver de modo digno. Posso conversar e me comunicar com alguém sem nunca conhecer – Telefone – mas não posso dizer que conheço a pessoa. O conhecimento se adquire pela experiência em relacionamento. Assim, uma pessoa pode ouvir falar de Deus, mas não é o mesmo que conhece-lo, pois isso se dá de modo pessoal e intimo.

III- A relação do conhecimento com o sofrimento

Você poderia perguntar: Mas o que o conhecimento tem a ver com o sofrimento? Neste capitulo vemos que há uma ligação do conhecimento com o sofrimento, pois é o sofrimento que nos leva a uma compreensão mais profunda da ação Divina. O sofrimento causa dúvidas e indagações. Alguém que está sofrendo um mal inesperado não tem explicações e nem respostas. Parte do processo de cura e restauração é obter a compreensão da vontade de Deus. E vemos isso claramente na experiência de Jó, o seu sofrimento o possibilitou conhecer a Deus de uma maneira nova e no final testemunhou: “Eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te vêem” 45:5. Vemos também na experiência de Paulo: “Deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor; por amor do qual perdi todas as cousas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo” Fil. 3:8. O conhecimento que Paulo tinha de Cristo o possibilitava sofrer pelo evangelho. Todo sacrifício precisa ter um sentido. Quando o sofrimento faz sentido no conhecimento de Cristo, torna-se possível suporta-lo. Jesus sofreu por nós e pela fé nele somos justificados. E essa fé se traduz num conhecimento experimental de Cristo.

IV- O que tudo isso significa para nós?

1- Que justificação e conhecimento caminham juntos. A nossa fé NELE e o conhecimento que temos DELE , nos dá acesso à justiça. Esse conhecimento envolve uma compreensão do sofrimento. “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; e não somente isto, mas nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo (conhecendo) que a tribulação produz a perseverança; e a perseverança , experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde” Rom. 5:1,3-5. 2- O sofrimento faz parte de nossa vida com Deus. Por mais que queiramos evitar o sofrimento ele faz parte de nossa experiência religiosa. O texto fala do sofrimento de Cristo, mas também explica o sofrimento do povo de Deus hoje. Paulo disse a Timóteo: “Sofre comigo como bom soldado de Jesus Cristo. Considera o que acabo de dizer porque o Senhor te dará entendimento de todas as coisas” II Tim. 2:3, 7. A carreira cristã é percorrida com uma série de desafios. Esses desafios não fazem sentido se não tivermos conhecimento de Deus.

Conclusão

Não estou aqui para oferecer a solução para evitar o sofrimento das pessoas, nem para prometer mar de rosas aos que crêem em Jesus. Mas estamos aqui para levar você e todas as pessoas a compreenderem seu próprio sofrimento na perspectiva da fé em Cristo. A solução para a dor e o sofrimento não é a ausência deles, mas é a comunhão que se dá num conhecimento profundo do Senhor. Alcançamos a justiça ao nos aprofundarmos no nosso conhecimento de Deus. A medida que nos aprofundamos nesse conhecimento, nos tornamos mais semelhantes a Ele – o SERVO sofredor.

 

Pr.Cirino Refosco
cirinorefosco@pibja.org

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